quinta-feira, 30 de maio de 2013

Linguagem e discurso: modos de organização

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012.

O signo entre o sentido de língua e o sentido de discurso
Expectativa múltipla depende do ponto de vista dos atores envolvidos no diálogo
Atos de linguagem têm dupla dimensão:

11)      Explícito: é uma simbolização referencial que são a produção de paráfrases estruturais que permitem que se realize na linguagem um jogo de reconhecimento morfosemântico construtor de sentido que remete à realidade que nos rodeia;

22)      Implícito: composto por paráfrases seriais que permitem  que se efetue um jogo de remissões constantes a alguma coisa além do enunciado explícito, que se encontra antes e depois do ato de proferição da fala, formam a Significação;

O fenômeno linguageiro, à luz das dimensões apontadas, têm duplo movimento:
I)                    Exocêntrico, movido por uma força centrífuga que obriga todo ato de linguagem (e, portanto, todo signo) a se significar em uma intertextualidade que é como um jogo de interpelações realizado entre os signos, no âmbito de uma contextualização que ultrapassa – amplamente – seu contexto explícito (27)
II)                  Endocêntrico, força centrípeda que obriga o ato de linguagem (e, logo, os signos que o compõem) a ter significado, ao mesmo tempo, em um ato de designação da referência (no qual o signo se esgota em função da troca) e em um ato de simbolização; nesse ato o signo se instala dentro de uma rede de relações com outros signos.

Para o sujeito interpretante, interpretar é criar hipóteses sobre: (i) o saber do sujeito enunciador; (ii) sobre seus pontos de vista em relação aos seus enunciados; (iii) e também seus pontos de vista em relação ao seu sujeito destinatário, lembrando que toda interpretação é uma suposição de intenção. (31)

O sujeito interpretante está sempre criando hipóteses sobre o saber do enunciador, como se fosse impensável que um indivíduo produzisse um ato de linguagem que correspondesse exatamente à sua intenção, ou seja, um ato de linguagem que fosse “transparente” (31)

Contrato de comunicação liga enunciador e receptor e os faz partilhar o mesmo ponto de vista. Este contrato é determinado pelas Circunstâncias do discurso (vista como um conjunto de saberes compartilhados)

O ato da linguagem como encenação

- assimetria na comunicação
O TU não é um simples receptor de mensagem, mas sim um sujeito que constrói uma interpretação em função do ponto de vista que tem sobre as circunstâncias de discurso e, portanto, sobre o EU (interpretar é sempre instaurar um processo para apurar as intenções do EU). (44)

·         TU-interpretante (TUi)
·         TU-destinatário (TUd)

O ato de linguagem não deve ser concebido como um ato de comunicação resultante da simples produção de uma mensagem que um Emissor envia a um Receptor. Tal ato deve ser visto como um encontro dialético (encontro esse que fundamenta a atividade metalinguística de elucidação dos sujeitos da linguagem) entre dois processos:

- processo de Produção, criado por um EU e dirigido a um TU-destinatário;
- processo de Interpretação, criado por um TU’-interpretante, que constrói uma imagem EU’ do locutor. (44)

O Tud é o interlocutor fabricado pelo EU como destinatário ideal, adequado ao seu ato de enunciação. O EU tem sobre ele um total domínio, já que o coloca em um lugar onde supõe que sua intenção de fala será totalmente transparente para TUd. 45

TUi age fora do ato de enunciação produzido por EU. Ele é responsável pelo processo de interpretação que escapa ao EU.

TUd+Eu=relação de transparência
TUi+EU=relação de opacidade

Podemos dizer que o TUi tem por tarefa, em seu ato de interpretativo, recuperar a imagem do TUd que o EU apresentou e, ao fazer isso, deve aceitar (identificação) ou recusar (não identificação) o estatuto do TUd fabricado pelo EU. 46

Discurso publicitário fabrica uma imagem de um TUd a quem falta algo;

·         Eu-enunciador (EUe)
·         Eu-comunicante (EUc)

O EUe é uma imagem de enunciador construída pelo sujeito produtor da fala (EUc) e representa seu traço de intencionalidade nesse ato de Produção 48

EUe é apenas uma máscara de discurso usada por EUc. É por isso que EUc, consciente desse estado de fato, pode jogar, com finalidades estratégicas, tanto o jogo da transparência entre EUe e EUc quanto o da ocultação de EUc por EUe. 49

Ø  Eue mascara a intencionalidade do EUc
Ø  É EUe e não EUc que produz o que se pode chamar de efeito de discurso

Para que um ato de linguagem (e não um ato de fala sob sua única forma configurada) seja percebido como performativo, é preciso que o EUe descreva uma ação através de sua fala e que o TUi possa imaginar que o EUc tenha um ‘poder’ efetivo com relação à ação descrita (assim, não se trata mais de uma realidade, mas de uma estratégia). 50

EUc é o que nossa interpretação diz dele e depende do conhecimento que TUi tem dele.

Delegação da fala: quando um orador é reconhecido como um EUc falando em nome de um terceiro

EUe é sempre uma imagem de fala que oculta em maior ou menor grau o EUc (51)

O ato de linguagem faz parte de um “projeto global de comunicação” concebido por EUc. “o EUc deve organizar o que está disponível no conjunto de suas competências, levando em conta a margem de liberdade e de restruções de ordem relacional de que dispõe” 56

“Noção de contrato pressupõe que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a ym acordo sobre as representações linguageiras dessas práticas sociais” 56
Ø  Pressupõe-se que o Tu tenha competência linguageira de reconhecimento análoga à do EU

“Noção da estratégia repousa na hipótese de que o suheito comunicante (EUc) concebe, organiza e encena suas intenções de forma a produzir determinados efeitos – de persuasão ou de sedução – sobre o sujeito interpretante (TUi), para leva-lo a se identificar – de modo consciente ou não – com o sueito destinatário ideal (TUd) construído por EUc” 56

Recursos para essa estratégia:
Ø  Fabricação de uma imagem de real baseada na verdade exterior
Ø  Fabricação de uma imagem de ficção baseado na identificação entre sujeitos

“Comunicar é um ato que surge envolvido em uma dupla aposta.” 57

Identificação desse ato com uma aventura por que está no campo do imprevisível.


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