quinta-feira, 30 de maio de 2013

Jornalismo econômico

CALDAS, Suely. Jornalismo econômico. São Paulo: Contexto, 2008.

A história
O jornalismo econômico tem a mesma idade da imprensa. Não há registro de um jornal sem notícias de fatos econômicos. 11

O jornalismo econômico não nasceu com a ditadura militar de 1964, como afirmam alguns. Embora tenha sido naquele período, como veremos adiante, que ele realmente passou a ganhar relevo, importância, prestígio, forma, organização e, dentro da estrutura das redações, um editoria própria. 11
No final do século XIX e início do século XX, os jornais brasileiros já traziam colunas fixas e diárias com temas exclusivamente econômicos. 11

O Estado de S.Paulo, 1920, coluna fixa de Cincinato Braga chamada “Magnos problemas econômicos”;
Austragésilo de Athayde tinha coluna nO Jornal com comentários sobre o mercado do café;
Nos primeiros anos do século XX os jornais passaram a publicar (o que fazem até hoje) seções  de mercados, em página inteira, com informações sobre cotação de abertura e fechamento dos mercados dos principais produtos agrícolas, do ouro e da prata, por exemplo. 12

1943, Getúlio Vargas inaugura a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN); tempos de pesada censura à imprensa, por não ceder à censura, o Estado de S. Paulo sofreu intervenção durante cinco anos. Quando o jornal voltou a circular livremente, contrataram Frederico Heller e Roberto Appy para comentarem economia.
1950, segundo governo Vargas, criou Vale do Rio Doce e Petrobrás. “as notícias econômicas também prosperaram, embora ainda fossem publicadas de forma dispersa, em páginas diferentes, sem organização.” 12

“O jornalismo econômico floresceu e só ocupou espaço próprio à época da ditadura militar de 1964.” 13
Assim, as páginas de política emagreciam na mesma proporção em que as de economia engordavam, indiretamente incentivadas pelos generais, ávidos em divulgar feitos do ‘milagre econômico’ e da queda da inflação. 13

1972 - Aloísio Biondi, Jornal do Commercio, caderno especial de crítica à política econômica do ministro da Fazenda, Delfim Neto. Foi censurado;

1967 – ministro Delfim Neto queria indicar um amigo à presidência do Banco Central. “manipulada por Delfim, a imprensa começou a publicar suspeitas de que os integrantes da equipe econômica do general Castello Branco (...) teriam tirado proveito pessoal de uma desvalorização cambial” (p 16). Houve instauração de CPI. A manipulação só foi revelada em 1993.

Com o fim da ditadura e a conquista de um regime democrático, manobras, manipulações, falsificações de índices de inflação tornaram-se impossíveis de acontecer, pois sempre haverá uma instituição a denunciar, o cidadão a protestar, a imprensa livre a publicar. 17

A partir da década de 1960, os jornais organizaram suas editorias de economia, atraindo melhores – e mais bem pagos – profissionais do ramo. Como aquela era a editoria que mais crescia e ganhava espaço, o trabalho de apuração das informações passou a ser segmentado por setores econômicos específicos. E assim nasceu a especialização. 17

A especialização crescente teve o mérito de preparar e qualificar os jornalistas, que passaram a conhecer e entender melhor os mecanismos internos dos diversos setores econômicos. 18

Na época da censura, a editoria de economia investiu no “segmento de economia popular” (p. 19). Eram pautas diárias a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab) e o Conselho Interministerial de Preços (CIP), assuntos ganharam o gosto dos leitores.

“Hoje, é verdade, a imprensa dá pouco espaço para a economia popular. Só O Globo e o Estadão mantêm páginas específicas, na editoria de economia, com o título “Defesa do consumidor”, onde o leitor encontra informações e serviços de interesse popular, inclusive queixas contra produtos, empresas e denúncias feitas à Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon)” 19

Num primeiro momento, segunda metade dos anos 60, a Abril criou as chamadas revistas técnicas, segmentadas por setores da economia e dirigidas às empresas e ao mundo de negócios que girava em torno deles. Química e derivados, Plásticos e embalagens, Máquinas e metais e Transportes Modernos foram experiências de sucesso, puxadas pela diversificação da economia industrial. O curioso é que Exame, até hoje a principal revista de economia do páis, nasceu como simples encarte delas, em 1967. O filhote cresceu e virou maior do que o quarteto que o gerou. 20

O mesmo fenômeno de valorização do jornalismo econômico aconteceu com a televisão e pelos mesmos motivos. “Porque entrava em lares de milhares de famílias, o noticiário da tevê era vigiado com lupa pelos militares.” (p. 20) Para atingir a grande massa e fugir do economês, foi frente à esta necessidade que Joelmir Beting saiu da cobertura de esportes para a de economia. “A preocupação de Joelmir Beting com a explicação didática dos assuntos tratados e a popularidade de seu programa lhe valeram o apelido de ‘Chacrinha da Economia’” (p. 21)

“’Não apenas a linguagem, os assuntos abordados também têm que ser diferentes na tevê, no rádio e no jornal. São três áreas bem distintas. No jornal, o texto é mais livre, o espaço maior e a diversidade de temas também. No rádio, a linguagem é coloquial, você conversa com o ouvinte. Na televisão, o público é passivo e muda de canal se o assunto é chato, pesado. Você tem trinta segundos para explicar por que os juros não baixaram e que implicações isto tem na vida das pessoas. Tive brigas infernais com a Globo por um minuto de tempo’, conta Joelmir Betting” (p. 22)[AC1] 

“’Os comentários eram mais didáticos do que são hoje. Havia preocupação especial em levar para o homem comum uma linguagem muito simples, assuntos de seu universo e explicados com um didatismo quase de professor. Como o público era desinformado sobre economia, muitas vezes o comentário ficava só na explicação, não havia tempo para passar disso’, lembra Marco Antonio Rocha” (p. 23)

Prestar serviços, explicar o reajuste da caderneta de poupança, o rendimento das ações da Petrobrás, atraor a atenção do público pelo seu interesse individual foi a saída encontrada pelas emissoras de tevê para enfrentar as limitações impostas pelo regime militar. 23

Abolida a censura, hoje o jornalismo econômico na tevê é menos preocupado com a explicação didática e em prestar serviços, sendo mais focado na conjuntura, nos efeitos das sucessivas crises econômicas dos últimos quinze anos, crises que afetam a vida das pessoas indistintamente, sejam pobres ou ricos. Mesmo os noticiários de horário nobre, de maior audiência, trazem assuntos econômicos relevantes, sem a preocupação obsessiva com o didatismo de Marco Antonio e Joelmir. 24

Seja em economia, política ou sociedade, não há coluna de notas que não traga uma intriga, que não seja alvo de algum interesse, que não passe algum recado, que não tome partido de alguém. (...) Mas é o próprio formato da coluna, o superficialismo das notas obrigatórias e diárias, que criam situações de cumplicidade com as fontes de informação. 25

Com a evolução da democracia, aumentou gradativamente o espaço de artigos de especialistas de fora do jornal. Mais ousados e independentes no comentários sobre as ações do governo, os edioriais também ganharam espaço maior. 26

Com raríssimas exceções, até o final dos anos 50 não havia imprensa independente no Braisl. Todos os jornais e revistas eram ligados ao poder público e dele dependiam financeiramente. 27

Hoje a dependência financeira ainda existe em regiões do país onde jornais, rádios e emissoras de tevê pertencem a caciques políticos locais (...) ou são ligados a uma determinada facção político-partidária. Nos grandes centros urbanos, onde o leitor é mais politizad, isso é cada vez mais difícil. 28



 [AC1]2.3. A visão dos jornalistas sobre o jornalismo econômico

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