A relação entre Estados Unidos e Brasil
foi, como deixa claro Gerson Moura, baseada apenas nos interesses que os
norte-americanos tinham em relação à sua posição política e econômica no
cenário internacional. Os últimos anos do governo de Vargas é o período usado
no texto do autor para mostrar de que forma essa relação de interesses foi
estabelecida e como Washington compactuou e interferiu na queda de Getúlio.
Gomes divide as relações entre os dois
países em três momentos. O primeiro é entre os anos de 1942 e 1944 e marca um
apoio sem restrições. O contexto internacional é marcado pela Segunda Guerra
Mundial e para os Estados Unidos a América Latina, em especial o Brasil, se
tornara ponto estratégico. Neste período Vargas consegue barganhar com
Washington colocando seu preço para o estabelecimento das relações dos dois
países. As relações se estreitaram em 1942 quando Vargas decide entrar na
guerra e o governo brasileiro se torna interessante para Roosevelt, mesmo o
país estando sobre uma ditadura, embora não nos moldes fascistas.
Internamente, contudo, o conflito entre
ser um governo autoritário e combater governos também autoritários na Europa
gerava contradições e conflitos políticos. Iniciam-se movimentos a favor da democratização
e se dividiam em duas tendências, uma liberal e outra socialista. A primeira
tendência estava ligada aos grupo oligárquicos que haviam perdido o poder em
1930 e apoiavam um retorno à Constituição de 1981. Houve tentativas de
mobilizar o exército a favor da causa liberal, mas os braços do poder de Vargas
já havia abraçado esse grupo, assim como também havia garantido o apoio da
classe trabalhadora por meio dos benefícios concedidos e pela organização
sindical estruturada de forma que dê sua gestão esteja também nas mãos do
governo. Além delas, as classes altas urbanas e rurais também era simpática à Vargas
por serem favorecidos pelas suas políticas diretas e indiretas, no caso da
estruturação do controle da classe trabalhadora.
Apesar do apoio ao governo brasileiro,
Washington começava a se preocupar com o destino da política por aqui. Começa,
em 1944 uma segunda fase das relações Estados Unidos-Brasil. De acordo com
Gomes, este era um período de espera pelos desdobramentos do governo Vargas.
Ocorrem a conferência de Bretton Woods, além de outros encontros políticos. São
definidas as bases da política internacional de acordo com uma ordem econômica
pensada a favor do livre comércio e de intervenções mínimas do Estado. No
entanto, a política dos países latino americanos era marcada pela intervenção
do Estado para, entre outros objetivos, a proteção da indústria nascente. O
governo brasileiro até tentou se estabelecer como um aliado especial de
Washington, porém a iniciativa foi negada e os norte-americanos preferiram
manter distância do Brasil até que a democracia voltasse para o país.
No final de 1945, quando são articuladas
as forças para a eleição de dezembro, é a terceira fase das relações entre os
dois países na visão de Moura. Uma dessas articulações internas era a favor da
continuidade de Vargas no poder para a elaboração de uma nova Constituição.
Dentro desse grupo que defendia o que ficou conhecido como a tese da
“Constituinte com Getúlio” estava também o Partido Comunista, motivo de sobra
para a preocupação de Washington devido à ligação da esquerda brasileira com
Moscou. A justificativa da continuidade de Vargas era pelo fato de que a
Constituição de 1937 poderia dar a brecha para o próximo governo ser tão
autoritário quanto Vargas.
Para as eleições contrapunham-se o
governo que lançara o ministro da Guerra de Getúlio, Eurico Gaspar Dutra, e os
liberais oposicionistas da União Democrática Nacional (UDN) que lançou Eduardo
Gomes. Estes buscam o apoio dos Estados Unidos. A forma que os norte-americanos
interviram na política brasileira foi por meio de seu embaixador Berle Jr. que
discursara em favor da democratização e contra Vargas e que percebeu que a
oposição ao governo aumentara após um discurso que proferiu em um jantar feito
em sua homenagem por jornalistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário