quinta-feira, 30 de maio de 2013

A mão de Washington na queda de Getúlio

MOURA, G. Sucessos e ilusões: relações internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1991. (pp 40-55)

A relação entre Estados Unidos e Brasil foi, como deixa claro Gerson Moura, baseada apenas nos interesses que os norte-americanos tinham em relação à sua posição política e econômica no cenário internacional. Os últimos anos do governo de Vargas é o período usado no texto do autor para mostrar de que forma essa relação de interesses foi estabelecida e como Washington compactuou e interferiu na queda de Getúlio.
Gomes divide as relações entre os dois países em três momentos. O primeiro é entre os anos de 1942 e 1944 e marca um apoio sem restrições. O contexto internacional é marcado pela Segunda Guerra Mundial e para os Estados Unidos a América Latina, em especial o Brasil, se tornara ponto estratégico. Neste período Vargas consegue barganhar com Washington colocando seu preço para o estabelecimento das relações dos dois países. As relações se estreitaram em 1942 quando Vargas decide entrar na guerra e o governo brasileiro se torna interessante para Roosevelt, mesmo o país estando sobre uma ditadura, embora não nos moldes fascistas.
Internamente, contudo, o conflito entre ser um governo autoritário e combater governos também autoritários na Europa gerava contradições e conflitos políticos. Iniciam-se movimentos a favor da democratização e se dividiam em duas tendências, uma liberal e outra socialista. A primeira tendência estava ligada aos grupo oligárquicos que haviam perdido o poder em 1930 e apoiavam um retorno à Constituição de 1981. Houve tentativas de mobilizar o exército a favor da causa liberal, mas os braços do poder de Vargas já havia abraçado esse grupo, assim como também havia garantido o apoio da classe trabalhadora por meio dos benefícios concedidos e pela organização sindical estruturada de forma que dê sua gestão esteja também nas mãos do governo. Além delas, as classes altas urbanas e rurais também era simpática à Vargas por serem favorecidos pelas suas políticas diretas e indiretas, no caso da estruturação do controle da classe trabalhadora.
Apesar do apoio ao governo brasileiro, Washington começava a se preocupar com o destino da política por aqui. Começa, em 1944 uma segunda fase das relações Estados Unidos-Brasil. De acordo com Gomes, este era um período de espera pelos desdobramentos do governo Vargas. Ocorrem a conferência de Bretton Woods, além de outros encontros políticos. São definidas as bases da política internacional de acordo com uma ordem econômica pensada a favor do livre comércio e de intervenções mínimas do Estado. No entanto, a política dos países latino americanos era marcada pela intervenção do Estado para, entre outros objetivos, a proteção da indústria nascente. O governo brasileiro até tentou se estabelecer como um aliado especial de Washington, porém a iniciativa foi negada e os norte-americanos preferiram manter distância do Brasil até que a democracia voltasse para o país.
No final de 1945, quando são articuladas as forças para a eleição de dezembro, é a terceira fase das relações entre os dois países na visão de Moura. Uma dessas articulações internas era a favor da continuidade de Vargas no poder para a elaboração de uma nova Constituição. Dentro desse grupo que defendia o que ficou conhecido como a tese da “Constituinte com Getúlio” estava também o Partido Comunista, motivo de sobra para a preocupação de Washington devido à ligação da esquerda brasileira com Moscou. A justificativa da continuidade de Vargas era pelo fato de que a Constituição de 1937 poderia dar a brecha para o próximo governo ser tão autoritário quanto Vargas.

Para as eleições contrapunham-se o governo que lançara o ministro da Guerra de Getúlio, Eurico Gaspar Dutra, e os liberais oposicionistas da União Democrática Nacional (UDN) que lançou Eduardo Gomes. Estes buscam o apoio dos Estados Unidos. A forma que os norte-americanos interviram na política brasileira foi por meio de seu embaixador Berle Jr. que discursara em favor da democratização e contra Vargas e que percebeu que a oposição ao governo aumentara após um discurso que proferiu em um jantar feito em sua homenagem por jornalistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário