ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação da grande imprensa.
São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
“Como o público
é fragmentado no leitor ou no telespectador individual, ele só percebe a
contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é
protagonista, testemunha ou agente direto, e que, portanto, conhece” (PERSEU,
p. 24)
“A manipulação
das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade” (PERSEU, p.
24)
“1. Padrão de ocultação – é o padrão que se
refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa. [...] É
um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade.”
(PERSEU, p. 25)
Opera no momento
da pauta, quando está se decidindo o que será noticiado ou não é quando se
decide o que é fato jornalístico daquilo
que é não-jornalístico (PERSEU, p.
26).
“O ‘jornalístico’ não é uma
característica intrínseca do real em si, mas da relação que o jornalista, ou
melhor, o órgão do jornalismo, a imprensa, decide estabelecer com a realidade”
(PERSEU, p. 26)
“tomada a
decisão de que um fato ‘não-jornalístico’, não há a menor chance de que o
leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa.” (PERSEU,
p.26)
“2. Padrão de fragmentação – [...] O todo
real é estilhaçado, despedaçado, fragmentado em milhões de minúsculos fatos
particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si, despojados
de seus vínculos com o geral, desligados de seus antecedentes e de seus
consequentes no processo em que ocorrem, ou reconectados e revinculados de
forma arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros
ficcionais e artificialmente inventados” (PERSEU, p. 27)
Operações
básicas: seleção de aspectos do fato
e descontextualização.
“A descontextualização é uma decorrência da
seleção de aspectos. Isolados como particularidades de um fato, o dado, a
informação, a declaração perdem todo o seu significado original e real para
permanecer no limbo, sem significado aparente, ou receber outro significado,
diferente e mesmo antagônico ao significado real original” (PERSEU, p. 28)
“3. Padrão da inversão – [...] reordenamento
das partes, a troca de lugares de importância dessas partes, a substituição de
umas por outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a
criação artificial de outra realidade.” (PERSEU, p. 28)
Opera tanto no
planejamento como na coleta das informações, mas ocorre principalmente na
edição.
“3.1 Inversão da relevância dos aspectos: o
secundário é apresentado como o principal e vice-versa; o particular pelo geral
e vice-versa;
“3.2. Inversão da forma pelo conteúdo: o texto
passa a ser mais importante que o fato que ele reproduz; a palavra, a frase, no
lugar da informação, o tempo e o espaço da matéria predominando sobre a clareza
da explicação;
“3.3. Inversão da versão pelo fato: não é o
fato em si que passa a importar, mas a versão que dele tem o órgão de imprensa,
seja essa versão originada no próprio órgão de imprensa, seja adotada ou aceita
de alguém – da fonte das declarações e opiniões.” (PERSEU, p. 29)
3.3.1. frasismo: o abuso da utilização de
frases ou de pedaços de frases sobre uma realidade para substituir a própria
realidade. (PERSEU, p. 30)
3.3.2. oficialismo, expressão [...] utilizada
para indicar a fonte ‘oficial’ ou ‘mais oficial’ de qualquer segmento da
sociedade, e não apenas as autoridades do Estado ou do governo. No lugar dos
fatos uma versão, sim, mas de preferência a versão oficial. (PERSEU, p. 30)
3.4. Inversão da opinião pela informação [consequência
da utilização sistemática e abusiva” dos outros padrões] o órgão de imprensa
apresenta a opinião no lugar da
informação, e com a agravante de fazer
passar a opinião pela informação. O juízo
de valor é inescrupulosamente utilizado como se fosse um juízo de realidade, quando não como se
fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. (PERSEU, p.
31)
“Ao
leitor/espectador, assim, não é dada qualquer oportunidade que não a de
consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é
autoritariamente imposta sem que lhe sejam igualmente dados os meios de
distinguir ou verificar a distinção entre informação e opinião.” (PERSEU, p.
32)
“4. Padrão de indução [...] o que torna a
manipulação um fato essencial e característico da maioria da grande imprensa
brasileira hoje é que a hábil combinação dos casos, dos momentos, das formas e
dos graus de distorção da realidade submete, em geral e em seu conjunto, a
população à condição de excluída da possibilidade de ver e compreender a
realidade real e a induza a consumir outra realidade, artificialmente
inventada. É isso que chamo de padrão de
indução.” (PERSEU, p. 33)
Esse padrão
“ultrapassa esses processos e abarca, ainda, os planos de apresentação final,
no parque gráfico ou nas instalações de radiofusão, distribuição, [índices de
tiragem e audiência de publicidade etc. – ou seja, os planos de produção
jornalística como parte da indústria cultural e do empreendimento
empresarial-capitalista.” (PERSEU, p. 34)
“A indução se
manifesta pelo reordenamento ou pela recontextualização dos fragmentos da
realidade, pelo subtexto – aquilo que é dito sem ser falado – da diagramação e
da programação, das manchetes e notícias, dos comentários, dos sons e das
imagens, pela presença/ausência de temas, segmentos do real, de grupos da
sociedade e de personagens” (PERSEU, p. 34)
“5. Padrão global ou o padrão específico do
jornalismo de televisão e rádio” (PERSEU, p. 35) um padrão que se divide em
três momentos básicos: o da exposição do
fato, o da sociedade fala e o da autoridade resolve, e ainda um quarto
que é opcional: o do epílogo que é
quando o apresentador ou outro profissional tece comentários tranquilizando ou
alienando o público. Uma lógica que guia a apresentação das notícias nestes
dois veículos que, mesmo que possa haver variações, como observa Abramo, é
seguida pela maior parte do noticiário.
Por que os
empresários da comunicação manipulam? No campo econômico, Abramo considera
tanto a figura do anunciante e sua
influência na abordagem de conteúdos que possam contrariá-lo ou agradá-lo,
quanto a ambição do lucro do próprio
empresário que “distorce e manipula para agradar seus consumidores e, assim,
vender mais material de comunicação e aumentar seus lucros: a responsabilidade
é do próprio empresário de comunicação, mas a motivação é econômica” (ABRAMO,
p. 43) Apesar de considerada como resposta à esta indagação, a busca pelo
lucro, por si só, é um argumento fraco, uma vez que este empresário,
proprietário de capital, pode ter outros meios mais rentáveis para aumentar e
expandir seu capital, a explicação para o uso específico da imprensa como um
veículo de manipulação está no poder.
“Assim, é sustentável a afirmação – pelo
menos em caráter de hipótese de trabalho – de que os órgãos de comunicação se
transformaram em novos órgãos de poder, em órgãos político-partidários, e é por
isso que eles precisam recriar a realidade onde exercer esse poder, e para
recriar a realidade precisam manipular as informações. A manipulação, assim,
torna-se uma necessidade da empresa
de comunicação, mas, como a empresa não foi criada nem organizada para exercer diretamente o poder, ela procura
transformar-se em partido político. Aliás, os grandes e modernos órgãos de
comunicação, no Brasil, parecem-se efetivamente muito com partidos políticos”
(ABRAMO, p. 44).
Alex, muito obrigada pelas sugestões das principais ideias, vou buscar o livro!!!! Flávia
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