quinta-feira, 30 de maio de 2013

Padrões de manipulação da grande imprensa

ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação da grande imprensa. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.

“Como o público é fragmentado no leitor ou no telespectador individual, ele só percebe a contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é protagonista, testemunha ou agente direto, e que, portanto, conhece” (PERSEU, p. 24)

“A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade” (PERSEU, p. 24)
“1. Padrão de ocultação – é o padrão que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa. [...] É um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade.” (PERSEU, p. 25)
Opera no momento da pauta, quando está se decidindo o que será noticiado ou não é quando se decide o que é fato jornalístico daquilo que é não-jornalístico (PERSEU, p. 26).

O ‘jornalístico’ não é uma característica intrínseca do real em si, mas da relação que o jornalista, ou melhor, o órgão do jornalismo, a imprensa, decide estabelecer com a realidade” (PERSEU, p. 26)
“tomada a decisão de que um fato ‘não-jornalístico’, não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa.” (PERSEU, p.26)

“2. Padrão de fragmentação – [...] O todo real é estilhaçado, despedaçado, fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si, despojados de seus vínculos com o geral, desligados de seus antecedentes e de seus consequentes no processo em que ocorrem, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais e artificialmente inventados” (PERSEU, p. 27)

Operações básicas: seleção de aspectos do fato e descontextualização.

“A descontextualização é uma decorrência da seleção de aspectos. Isolados como particularidades de um fato, o dado, a informação, a declaração perdem todo o seu significado original e real para permanecer no limbo, sem significado aparente, ou receber outro significado, diferente e mesmo antagônico ao significado real original” (PERSEU, p. 28)

“3. Padrão da inversão – [...] reordenamento das partes, a troca de lugares de importância dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a criação artificial de outra realidade.” (PERSEU, p. 28)

Opera tanto no planejamento como na coleta das informações, mas ocorre principalmente na edição.
“3.1 Inversão da relevância dos aspectos: o secundário é apresentado como o principal e vice-versa; o particular pelo geral e vice-versa;
“3.2. Inversão da forma pelo conteúdo: o texto passa a ser mais importante que o fato que ele reproduz; a palavra, a frase, no lugar da informação, o tempo e o espaço da matéria predominando sobre a clareza da explicação;
“3.3. Inversão da versão pelo fato: não é o fato em si que passa a importar, mas a versão que dele tem o órgão de imprensa, seja essa versão originada no próprio órgão de imprensa, seja adotada ou aceita de alguém – da fonte das declarações e opiniões.” (PERSEU, p. 29)

3.3.1. frasismo: o abuso da utilização de frases ou de pedaços de frases sobre uma realidade para substituir a própria realidade. (PERSEU, p. 30)

3.3.2. oficialismo, expressão [...] utilizada para indicar a fonte ‘oficial’ ou ‘mais oficial’ de qualquer segmento da sociedade, e não apenas as autoridades do Estado ou do governo. No lugar dos fatos uma versão, sim, mas de preferência a versão oficial. (PERSEU, p. 30)

3.4. Inversão da opinião pela informação [consequência da utilização sistemática e abusiva” dos outros padrões] o órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com a agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente utilizado como se fosse um juízo de realidade, quando não como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. (PERSEU, p. 31)

“Ao leitor/espectador, assim, não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta sem que lhe sejam igualmente dados os meios de distinguir ou verificar a distinção entre informação e opinião.” (PERSEU, p. 32)

“4. Padrão de indução [...] o que torna a manipulação um fato essencial e característico da maioria da grande imprensa brasileira hoje é que a hábil combinação dos casos, dos momentos, das formas e dos graus de distorção da realidade submete, em geral e em seu conjunto, a população à condição de excluída da possibilidade de ver e compreender a realidade real e a induza a consumir outra realidade, artificialmente inventada. É isso que chamo de padrão de indução.” (PERSEU, p. 33)

Esse padrão “ultrapassa esses processos e abarca, ainda, os planos de apresentação final, no parque gráfico ou nas instalações de radiofusão, distribuição, [índices de tiragem e audiência de publicidade etc. – ou seja, os planos de produção jornalística como parte da indústria cultural e do empreendimento empresarial-capitalista.” (PERSEU, p. 34)

“A indução se manifesta pelo reordenamento ou pela recontextualização dos fragmentos da realidade, pelo subtexto – aquilo que é dito sem ser falado – da diagramação e da programação, das manchetes e notícias, dos comentários, dos sons e das imagens, pela presença/ausência de temas, segmentos do real, de grupos da sociedade e de personagens” (PERSEU, p. 34)

“5. Padrão global ou o padrão específico do jornalismo de televisão e rádio” (PERSEU, p. 35) um padrão que se divide em três momentos básicos: o da exposição do fato, o da sociedade fala e o da autoridade resolve, e ainda um quarto que é opcional: o do epílogo que é quando o apresentador ou outro profissional tece comentários tranquilizando ou alienando o público. Uma lógica que guia a apresentação das notícias nestes dois veículos que, mesmo que possa haver variações, como observa Abramo, é seguida pela maior parte do noticiário.

Por que os empresários da comunicação manipulam? No campo econômico, Abramo considera tanto a figura do anunciante e sua influência na abordagem de conteúdos que possam contrariá-lo ou agradá-lo, quanto a ambição do lucro do próprio empresário que “distorce e manipula para agradar seus consumidores e, assim, vender mais material de comunicação e aumentar seus lucros: a responsabilidade é do próprio empresário de comunicação, mas a motivação é econômica” (ABRAMO, p. 43) Apesar de considerada como resposta à esta indagação, a busca pelo lucro, por si só, é um argumento fraco, uma vez que este empresário, proprietário de capital, pode ter outros meios mais rentáveis para aumentar e expandir seu capital, a explicação para o uso específico da imprensa como um veículo de manipulação está no poder. 

“Assim, é sustentável a afirmação – pelo menos em caráter de hipótese de trabalho – de que os órgãos de comunicação se transformaram em novos órgãos de poder, em órgãos político-partidários, e é por isso que eles precisam recriar a realidade onde exercer esse poder, e para recriar a realidade precisam manipular as informações. A manipulação, assim, torna-se uma necessidade da empresa de comunicação, mas, como a empresa não foi criada nem organizada para exercer diretamente o poder, ela procura transformar-se em partido político. Aliás, os grandes e modernos órgãos de comunicação, no Brasil, parecem-se efetivamente muito com partidos políticos” (ABRAMO, p. 44).


Um comentário:

  1. Alex, muito obrigada pelas sugestões das principais ideias, vou buscar o livro!!!! Flávia

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