quinta-feira, 30 de maio de 2013

“Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”

FURTADO, Celso (1961) “Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”. In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.) Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. I. Rio de Janeiro, Cofecon-Cepal; Record, 2000, pp. 239 a 262.

Quando Furtado fala de modelo clássico, ele se refere aos países centrais, economias industrializadas no recorte a partir do século XVIII, considerando principalmente a Inglaterra para seu estudo.

A revolução industrial na Inglaterra agiu principalmente numa redução dos custos para atender à demanda que pressionava o mercado. Num primeiro momento Furtado trabalha com os setores manufatureiros de bens de consumo e de capital. Queda nos preços dos bens de consumo representavam aumento dos lucros e consequentemente um aumento da poupança dos capitalistas (assim como Lewis) e isso permite investimento no setor de manufatura e aumento da produtividade. Ocorre toda uma cadeia lógica da força de trabalho entre manufaturados, bens de capital e setor agrícola. A produtividade não dispensa mão-de-obra, mas diminui a sua necessidade. O que ocorre com a movimentação de força de trabalho entre esses três setores é que a mão de obra passa de elástica para inelástica até que, neste ponto, ocorre aumento de salário e esses países passam a escoar sua produção para o exterior. Há, no final do processo, uma acomodação da mão-de-obra nos três setores que são homogêneas em tecnologia, a economia se diversifica.

Segundo Furtado, “A primeira fase do desenvolvimento industrial se caracterizou por um aumento substancial da participação da indústria de bens de capital – sobretudo da indústria de equipamentos – no total da produção industrial” (p. 248). Uma modificação acompanhada de alterações na distribuição de renda, mas com um crescimento maior dos lucros que dos salários. A segunda fase foi marcada por um descompasso ou “desequilíbrio” entre a capacidade de produção de bens de capital e a possibilidade de absorção dos mesmos.

Na periferia, o setor agrícola e o primário exportador convivem sendo o primeiro tradicional e o segundo intensivo em tecnologia. As economias subdesenvolvidas passam pelo choque da Primeira Guerra Mundial e são obrigadas a ocupar sua capacidade ociosa e inicia a substituição de importações e o setor de manufaturados.

Passado o choque externo, um momento mais favorável para o setor primário exportador que acumula divisas para investir na produção de bens de capital. O setor tradicional não é transformado a fundo o que prejudica a economia porque desequilibra a balança de pagamentos por conta das importações para bens de capital. Há, portanto, níveis diferentes de tecnologia nos setores dessa economia.

“A resultante foi quase sempre a criação de estruturas híbridas, uma parte das quais tendia a comportar-se como um sistema capitalista, a outra, a manter-se dentro da estrutura preexistente. Esse tipo de economia dualista constitui, especificamente, o fenômeno do subdesenvolvimento contemporâneo. O subdesenvolvimento é, portanto, um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento” (p. 253)

“Apenas uma reduzida fração da mão-de-obra disponível é absorvida pela empresa forânea; os salários pagos a essa mão-de-obra não são determinados pelo nível de produtividade da empresa e, sim, pelas condições de vida prevalecente na região” (p. 254), ou seja, é possível se pagar pouco, uma vez que o padrão de vida na periferia é diferente daquele observado no centro.

Nas fases de forte declínio dos preços de exportação, a rentabilidade dos negócios ligados ao mercado interno tende a crescer, em termos relativos, pois aumentam os preços das mercadorias importadas ao mesmo tempo que mantém o nível da renda” (p. 257)


O subdesenvolvimento “é, em si, um processo particular, resultante da penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas” (p. 261).

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