quinta-feira, 30 de maio de 2013

Jornalismo econômico

KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo econômico. 3 ed. rev. São Paulo: Editora da Universidade Estadual de São Paulo, 2007

INTRODUÇÃO
A desordem monetária, que desde 1972 vem destruindo moedas nacionais e solapando a cultura do dólar, fez da economia o núcleo temático do noticiário jornalístico deste final de século, deslocando conflitos políticos para um segundo plano. 14
Para as elites, o cenário de alto risco deu ainda mais relevância ao noticiário econômico na tomada de decisões. 14
Com tudo isso, uma grave disfunção afeta o jornalismo dedicado à economia. A maioria dos leitores e dos telespectadores, mesmo os instruídos, como os estudantes universitários, não consegue decodificar o noticiário econômico. Para o grande público, a economia adquiriu, ao mesmo tempo, significados elementares, ligados ao seu dia-a-dia, e outros abstratos, de difícil compreensão. 14
Foi decisivo o jornalismo como linha auxiliar na campanha neoliberal dos anos 90 pelo desmonte do Estado social-democrata, na sedução dos jovens ao ideal do sucesso pessoal, na disseminação da nova utopia das classes médias: a de possuir o próprio negócio. O jornalismo econômico, veículo por excelência dessa nova ideologia, tornou-se o principal agendador do debate político. Assim, a disfunção de sua linguagem talvez tenha uma função ideológica. Um jornalismo que não se propõe a explicar e sim a seduzir. 14
O espaço dos jornalistas dedicados à economia permanece confinado, dificultando a formação de uma nova linguagem, apropriada à apresentação e à análise da questão econômica para um grande público. 15
No Brasil, essa disfunção foi acentuada pelas deficiências na formação tanto de jornalsitas como de leitores, pelos obstáculos à prática do jornalismo e pelo número reduzido de publicações voltadas à macroeconomia e à economia política. 15
PESQUISAR: revistas Visão e Banas, surgidas no bojo da industrialização dos anos 50; e Fator, surgida no bojo da crise dos anos 60.
Motivadores do crescimento do jornalismo de serviço: alta do petróleo, greve operárias, recessão dos anos 80, altas dos preços. “A inflação alimenta o jornalismo de serviços voltado aos problemas econômicos e financeiros de seus leitores de classe média, tais como prestações da casa própria, aplicações em poupança, impostos e taxas escolares, custo de vida e defesa do consumidor” (p. 16)
O jornalismo de serviço é ao mesmo tempo didático e voltado a uma cidadania econômica. Com os repetidos pacotes econômicos, tornou-se vital no cotidiano das pessoas. 16
Entre 1968 e 1988 o espaço da economia nos jornais cresceu de 1,5 páginas para 6,5. 1/5 das manchetes foi de economia.
Como práxis, ou prática consciente e autocrítica, o jornalismo brasileiro voltado à economia se ressente da pouca autonomia ideológica do jornalista em relação às classes proprietárias na abordagem dos grandes temas da agenda político econômica. O predomínio da ideologia neoliberal [AC1] levou a uma ideologização da cobertura macroeconômica, simultaneamente a uma expansão do jornalismo de negócios. 16
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Valor Econômico
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Diário do Comércio (SP)
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Jornal do Comércio (Porto Alegre)
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1.       O SABER E O CONHECIMENTO NO JORNALISMO ECONÔMICO

Acima de nosso saber apriorístico e nossos juízos de valor, tão importantes para o jornalista, a verdade jornalística a ser trabalhada e transmitida em cada momento é sempre a verdade contingente, que decorre da verdade dos fatos, de cada nova observação e não de uma crença. 21
Um dos problemas centrais do jornalista dedicado à economia é a precariedade das teorias econômicas, divididas em grande número de escolas de pensamento, cada qual com seus axiomas, manejados como instrumentos de persuasão ideológica e a maioria delas cada vez mais distante do objeto central das ciências humanas, o próprio homem. O jornalistas se move nesse caldo de cultura e, se desconhece as sutilezas das relações econômicas, tende a fazer ilações simplistas e tirar conclusões sem fundamento nos fatos ou na razão. 22
A falta de conhecimento do jornalista impede tanto a exposição coerente de suas ideias, como a filtragem crítica das premissas falsas, frequentemente usadas pelos agentes econômicos no debate da economia. 22
Predomina o minimalismo da informação e do conhecimento, uma deficiência informacional que se manifesta na precariedade e na baixa confiabilidade das estatísticas e que contribui para  a baixa qualidade das decisões da política econômica e do padrão do jornalismo econômico no Brasil. 22
Críticas de Kucinski sobre a falta de informação: falta de dados do IBGE desde 1985; não tem estatísticas de formação de estoques, formação de K fixo e distribuição de renda; dados sobre escolaridade e analfabetismo ultrapassados há anos; falta de estatísticas confiáveis de emprego e desemprego; não se divulga gastos com royalties e patentes;
“Vivemos em parte uma ilusão estatística, agravada ainda mais pelo crescimento da economia informal” 23
As novas gerações de jornalistas ressentem-se também da deficiência dos currículos dos cursos de jornalismo, que não trazem aporte substantivo de conhecimento sobre economia, história, sociologia, filosofia e política. 23
Na cobertura das políticas de governo e dos problemas macroeconômicos, é essencial o conhecimento das relações mais importantes entre as variáveis econômicas, assim como sua ligação com os âmbitos político e social. 23
O jornalismo de serviços combina níveis elementares de informação, quando trata de mercadorias e serviços, e níveis complexos, quando trata dos investimentos financeiros da classe média. 24
No debate econômico, abusa-se das falácias, argumentos com premissas aparentemente corretas, mas cujas conclusões são falsas. A mais frequente é a falácia estatística. Quase tudo pode ser provado em economia, manipulando-se estatísticas. 24
Outro típico argumento falho é o que inclui uma ou mais premissas falsas, montado em geral com objetivos ideológicos. 25
Frequentemente, jornalistas e economistas formulam leis gerais, e portanto relações de causalidade, com base em observações singulares. O que é um risco metodológico. Observações singulares não garantem a validade de uma lei geral. (...) Para escapar das falsas relações de causalidade, ou da formulação de leis inválidas, o jornalista deve evitar generalizações e tomar cuidado com a validade de suas premissas. 25 – 26
Com frequência, o jornalista erra por confusão conceitual. 27
O jornalista não deve reduzir a economia a uma regra de três. 27
Foi Fernando Henrique Cardoso quem formulou a versão mais acabada da teoria da dependência, ao postular que são as relações internas de cada país que tornam possível e dão forma à dependência. Para Fernando Henrique, dependência é a condição de funcionamento geral do sistema econômico e político, e subdesenvolvimento a medida do grau de diferenciação dos subsistemas. Ao contrário da maioria dos demais, impressionado pelo milagre econômico dos anos 70, Fernando Henrique dizia ser possível o desenvolvimento auto-sustentado, mesmo dentro da relação de dependência, em virtude de uma solidariedade econômica entre centro e periferia, apesar dos obstáculos políticos a serem vencidos na periferia. 48
Com o advento do neoliberalismo dos anos 80, essa tese se tornou não só majoritária, mas hegemônica, a ponto de desqualificar a priori toda alegação em contrário, considerar o desenvolvimento autônomo como impossível e indesejável, e erigir o capital estrangeiro como “força redentora”, a única salvação dos países de baixa renda. O jornalismo econômico no Brasil é comandado por essa tese, tanto em sua atitude geral como nas minúcias da cobertura. 69
Erro do jor econ.: chamar de investimento as aplicações de capitais estrangeiros na Bolsa de Valores brasileiro. Confusão com investimento produtivo.
Com a inflação crônica, o Brasil desenvolveu dezenas de índices de preços, nacionais, regionais ou setoriais. O acompanhamento dos preços tornou-se obsessivo, ocupando amplos espaços e manchetes frequentes. Jornais importante, como a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, criaram seções de acompanhamento de preços da cesta básica de supermercados e hipermercados. 130
O neoliberalismo se oferece então como a ideologia da reação à queda contínua do lucro das grandes empresas nos anos de 70, quando o acirramento do conflito distributivo aumentou o poder de barganha do movimento sindical, especialmente na Europa. 153
No ano seguinte (1980), Ronald Reagan chegou ao poder nos Estado Unidos, implantando a versão norte-americana do neoloberalismo, a reagonomics, que consistia basicamente em reduzir os benefícios sociais dentro dos Estados Unidos e priorizar as privatizações em suas áreas de influência, especialmente na América Latina. 153
Desde o surgimento dos grandes empréstimos bancários coletivos, os empréstimos sindicalizados (syndicated loans), por volta de 1967, ficou evidenciadaa relação direta entre os novos meios de comunicação e novos tipos de operações econômicas e financeiras. 158
A revolução das comunicações está provocando outras mudanças nos fluxos de informação econômica e na práxis jornalística. (...) Com base na informática, estão se multiplicando os boletins on line, em geral publicados pelos grandes jornais. No Brasil, O Estado de S. Paulo e A Gazeta Mercantil publicam boletins on line, com várias edições diárias, transmitidos a assinantes via faz. 161
Tanto no jornalismo escrito como no rádio e na TV é a narrativa final que define a qualidade da informação. A personalidade pública do jornalista, seu padrão ético e profissional. O bom jornalista procura ter uma boa narrativa, ser um bom contador de histórias. 167
A intencionalidade do jornalista pode ou não ser compartilhada pelos leitores. O texto é também a base de um diálogo com o leitor, e por isso o jornalista deve deixar que ele tira suas próprias conclusões. 167
No jornalismo dedicado à economia, um dos principais problemas de linguagem está no fato de ele se dirigir a pelo menos dois públicos bem diferentes, que se comunicam por códigos próprios: de um lado, especialistas, grandes empresários e profissionais do mercado; de outro, o grande público e os pequenos empresários. 167
A linguagem é também constitutiva de quem a formula, envolve todo o processo de estruturação do saber e do conhecimento de cada um e de cada coletivo. Os economistas apenas aparentemente usam a linguagem comum. De fato, eles a codificam em linguagem científica, na qual não apenas os argumentos são lógicos, mas também seus conteúdos são constituídos de sistemas lógicos, conceitos, relações e leis econômicas. 168
O desafio do jornalista está em reportar e analisar, transmitir opiniões de conomistas e governo, sem usar linguagem que as pessoas comuns não entendam, e sem violar os conceitos criados pela linguagem dos economistas. 168
Trata-se de objetividade como um princípio de adesão à honestidade intelectual e de propósitos e de primazia dos fatos, que se materializa na linguagem jornalística por meio de um conjunto de atributos de fundo e de estilo. 168
Atributos de fundo: relevância social do tema; hierarquização dos fatos; concatenação e contextualização; distinção entre opinião e informação.
Atributos de estilo: clareza, simplicidade, concisão e precisão.
Além de pouco claros, eufemismos como “crescimento negativo” têm motivações ideológicas. As elites dominantes esmeram-se em cria-los para camuflar os conteúdos de suas políticas econômicas. Os eufemismos emasculam a linguagem jornalística. 169
Para cada ação, um verbo específico, para cada verbo, uma ação. 170
A maioria das profissões definem-se por uma técnica. O jornalismo define-se por uma ética, um conjunto de valores que implicam regras específicas de conduta e responsabilidade pessoal do jornalista pelo seu trabalho. 173
A mera escolha do tema a ser ttratado em cada dia tem implicações éticas, assim como a decisão de usar ou não uma fotografia, de ouvir ou não mais uma fonte, de escutar ou não uma conversa de terceiros, de invadir ou não a privacidade de uma pessoa, de surrupiar um documento confidencial do governo. 173
A própria competência do jornalista é em grande parte medida pela sua capacidade de resolver adequadamente os dilemas éticos, exercendo ao máximo sua liberdade e independência, sob a pressão do tempo, dos jogos de poder e das limitações de mercado. 173
Nos seus primórdios, o jornalismo foi veículo de informações comerciais e econômicas de homens de negócios. Logo se tornou instrumento do direito de expressão do cidadão na fundação da democracia e da República. 174
O jornalista tornou-se um dos principais agentes da democracia, cabendo a ele revelar segredos do poder, informar, educar e esclarecer a população e, portanto, contribuir para a construção da cidadania e do exercício dos dieritos civis. 174
Os dois princípios fundamentais do padrão ético do jornalismo das democracias liberais são os de que a imprensa é considerada essencial à existência da democracia e de que cada jornalista é inteiramente responsável pelo que escreve e pelos resultados de sua ação, na medida em que ela é necessariamente intencional e consciente. 174
O jornal é uma mercadoria, vendida para dar lucro e, em geral, de propriedade de uma empresa ou de um empresário, e não dos próprios jornalistas. 176
O jornalismo especializado em economia está centrado muito mais nos mecanismos de produção e no processo geral de acumulação. Seu objeto principal é a lógica de produção de lucros. Seus valores referenciais são o sucesso a esperteza, e a verdade, nessa ordem. Seus heróis são as empresas bem-sucedidas. Sua ideologia mais permanente é a das teorias econômicas marginalistas que relegam o homem ao papel de variável dependente do sistema. (...) Podemos dizer que o jornalismo econômico não é apenas uma especialização, é uma modalidade de jornalismo, referenciada por uma ética própria. 176
Kucinski caracteriza o jornalismo e a cultura brasileira como autoritários. O jornalismo praticado aqui se diferencia daquele praticado em países com democracias liberais no que se refere à “renúncia à opinião própria não por respeito a uma objetividade jornalística, mas por autocensura” (p. 177). A autocensura é fruto do regime militar. As empresas jornalísticas, durante o período de censura,  se identificava com os objetivos do regime e estava preocupada em evitar a censura direta para não tornar o produto final diário imprestável. “Daí a auto-acomodação aos interesses do regime. O jornalista brasileiro típico é hoje aquele que naturalmente limita ou dosa as revelações que publica. A autocensura tornou-se uma cultura tão dominante que os jornalistas que rompem esse padrão bem comportado são mal vistos ou relegados ao ostracismo” (p. 177). O jornalista brasileiro não tem como seu norte os interesses do público. “O jornalista brasileiro acredita, em geral, que deve ponderar sobre as consequências da verdade que pretende publicas, sobre quem ou que grupos se beneficiarão dessa publicação, e condicionar sua publicação a esse julgamento” (p. 178).
O modo de pensar estritamente ideológico, composto apenas por ideias acabadas, é antijornalístico porque prescinde dos fatos, que são os fundamentos do jornalismo. Age como camisa-de-força intelectual, que dispensa a observação e despreza a informação contrária aos seus dogmas. 183
Foi assim no Brasil, na implantação do projeto neoliberal, em especial na campanha pelas privatizações, [AC3] em que todos os meios de comunicação de massa adotaram a mesma posição, apesar de a sociedade civil estar dividida. 183
Os padrçoes ideológicos do jornalismo surgem dos padrões das elites dominantes no momento. “Na ideologia do jornalismo econômico especificamente, influem muito as teorias econômicas dominantes em cada período. Essas teorias (...) fazem parte do conjunto de respostas das classes dominantes às várias crises que se sucedem no sistema” (p. 184)
No jornalismo econômico, The Economist ocupa posição-chave, como geradora primária de ideologia, papel que assumiu como proposta editorial e por ser a revista transnacional por excelência, lida pela comunidade internacional de homens de negócios. 184
Padrão ideológico: defesa da livre empresa e da democracia liberal.
No centrismo a objetividade jornalística se torna uma ideologia, no sentido de tentar justificar teoricamente a limitação no exercício da visão crítica. O centrismo é por sua vez a ideologia de uma política de controle social das redações baseada na desqualificação dos que defendem a reforma social. Sob a moderação do centrismo, os conservadores sentem-se à vontade, enquanto os reformadores ficam na defensiva. 185
A teoria econômica não só desumanizou-se como tornou-se ela própria um instrumento de maior desumanização da economia e do jornalismo econômico. (...) A negação do social pelas forças econômicas, que no neoliberalismo se tornou explícita e programática, se reflete na negação do social pelo jornalismo econômico convencional. 187
Na era neoliberal o jornalismo econômico se torna quase que um “aparelho ideológico de Estado”, um dos mecanismos não coercitivos usados pelas elites dominantes ou pelo Estado para manter as condições de reprodução do sistema, ao lado da escola e da Igreja, conforme tese do filósofo francês Louis Althusser. 188
A escolha da boa notícia, ao contrário do catastrofismo que caracteriza o jornalismo genérico, justifica-se pela natureza do processo econômico, mas tem conotações ideológicas. 188
Os jornais de influência nacional são assim designados exatamente devido à sua homogeneidade ideológica e importância como articuladores do processo de formação do discurso de persuasão das elites em torno do consenso nacional. 190
O OFICIALISMO: “Nosso jornalismo econômico tem se revelado subserviente [AC4] ao governo do dia, especialmente nos momentos cruciais em que o governo baixa pacotes econômicos e na abordagem geral das políticas econômicas” (p. 191)



 [AC1]Ler sobre qual era essa ideologia!
 [AC2]Mandar essa frase para a Rita

 [AC3]!!!!!
 [AC4]3.2. Alinhamento da mídia

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