quinta-feira, 30 de maio de 2013

A CEPAL e a especificidade do desenvolvimento latino-americano

RODRIGUEZ, Octavio. Teoria do Subdesenvolvimento da Cepal. Prefácio, caps. 1 e 9. Rio de Janeiro, Forense, 1981.

O que os teóricos da Cepal criticam em Rostow é sua teoria sobre as fases ou etapas do desenvolvimento. Ao contrário desse teórico, os cepalinos acreditam que a condição de subdesenvolvimento tende a se reproduzir, permanecer.

Outro ponto do diálogo é o do comércio exterior. Os teóricos da TDE não estabeleciam as características das divisões do trabalho apesar de serem contrários à teoria das vantagens comparativas. Já os cepalinos consideram o comércio exterior como o centro da teoria do conceito centro-periferia que divide a indústria para o centro, citam “centros industrializados”, e a exportação de matéria-prima para os países periféricos. As propostas e tendências DA Cepal também são contra a Teoria das Vantagens Comparativas porque e ela que cria os países subdesenvolvidos e faz essa condição se perpetuar. De Hirshman, a Cepal tira a não capacidade de encadeamento da economia atrasada.

No caso das relações centro-periferia, existem estruturas produtivas muito díspares, que impediriam o nosso desenvolvimento, se não houvesse um esforço tenaz e deliberado de recondicionamento estrutural nas relações de troca com os centros, o que exige combinar tradicionalmente as exportações industriais e a substituição de importações” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9)

Nesse par de conceitos está implícita a ideia de um desenvolvimento desigual originário. Consideram-se centros as economias em que penetram primeiro as técnicas capitalistas de produção. A periferia está constituída pelas economias cuja produção permanece inicialmente atrasada, do ponto de vista tecnológico e organizativo” (p. 37)

Entende-se que centros e periferia se constituem historicamente como resultado da forma pela qual o progresso técnico se difunde na economia mundial. Nos centros, os métodos indiretos de produção gerados pelo progresso técnico se difundem em um período de tempo relativamente breve, pela totalidade do aparelho produtivo. Na periferia, parte-se de um atraso inicial e, no transcorrer da fase dita do ‘desenvolvimento para fora’, as técnicas novas só são implantadas nos setores exportadores de produtos primários e em algumas atividades econômicas diretamente relacionadas com a exportação, as quais passam a coexistir com os setores atrasados no que diz respeito à penetração das novas técnicas e ao nível da produtividade do trabalho” (RODRIGUES, p. 37)

O texto de Furtado de 1961 é que apresenta os conceitos de subdesesnvolvimento e desenvolvimento, conceitos estes dinâmicos, enquanto centro-periferia é um conceito estrutural. A “inovação” de Furtado é dizer que o subdesenvolvimento é um tipo de desenvolvimento, com seu capitalismo específico [AC1] e que não se supera. O subdesenvolvimento é pensado como estrutura, não um estágio, é uma complementaridade historicamente estruturada.

As economias periféricas adquirem dos traços fundamentais: um caráter especializado e heterogêneo. O critério para caracterizar heterogeneidade e homogeneidade é a tecnologia. A difusão tecnológica nos países centrais foi feita de forma lenta e igualitária possibilitando que os setores industrial e agrícola não fossem tão díspares quanto na periferia.

A estrutura mencionada é heterogênea ou parcialmente atrasada, no sentido de que coexistem em seu seio setores em que a produtividade alcança os níveis mais altos do mundo – ou particularmente o setor exportador – e atividades em que se utilizam tecnologias antiquadas, nas quais a produtividade do trabalho é muito inferior à que se pode encontrar nas atividades similares nos centros” (RODRIGUES, p. 38)

A especialização dos países periféricos também é um problema estrutural porque impede uma diversificação horizontal [AC2] da economia e também confere pouca complementaridade entre os setores.

Essa estrutura é especializada num duplo sentido: as exportações se concentram em um ou alguns poucos bens primários; a diversificação horizontal, a complementariedade intersetorial e a integração vertical da produção têm um desenvolvimento pequeno, de tal forma que um espectro muito amplo de bens – sobretudo manufaturas – tem que ser conseguido mediante importação” (RODRIGUES, p. 233-4)

A fase do desenvolvimento para fora é uma característica de final do século XIX nos países periféricos e dura até 1930. É um mundo marcado pelo capitalista monopolístico que reforça o caráter primário exportador das economias periféricas. “’A heterogeneidade e a especialização conformam-se e se consolidam nessa etapa, dado que no seu desenrolar, a periferia cresce primordialmente com base na expansão das atividades exportadoras de bens primários” (RODRIGUES, p. 234) Essas tendências reforçam sua estrutura: um componente estrutural é a diferença de produtividade industrial e primária, um dualismo estrutural, o que marca também as diferenças entre o centro produtivo e a periferia pouco produtiva. “Não é difícil perceber que, nesta diferenciação, subjaz a desigualdade entre as estruturas produtivas, pois o atraso relativo [AC3] de sua própria estrutura impede a periferia de gear progresso técnico e incorporá-lo ao processo de produção em proporção similar à dos centros” (RODRIGUES, p. 42)

Outra tendência é a deterioração dos termos de troca. A renda dos países periféricos é menor que a do central “A distribuição de renda é explicada primordialmente por um jogo de relações de poder que surge das mutações da estrutura social. O mercado reflete esses fenômenos estruturais e funciona bem ou mal, segundo a distribuição” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9); além disso os produtos primários agregam pouco valor e a oferta é elástica e varia de acordo com a variação da renda e produzida de acordo com a capacidade da terra enquanto que a demanda é inelástica.; Além disso, essa deterioração tem origem também nos ciclos da economia: quando há movimentos de alta e baixa e afetam as exportações da periferia, até porque os centros conseguem pressionar os preços da periferia para baixo. Os preços dos produtos industrializados nas baixas do ciclo não caem pelo fato de os salários dos países centrais serem mais rígidos enquanto que os preços das exportações de periféricos caem assim como os salários internos na periferia.

“deterioração dos termos de troca (...) esse fenômeno é expressão de uma tendência a longo prazo, inerente ao intercâmbio de bens primários de exportação da periferia por bens industriais exportados pelos centros. (...) Por definição, a deterioração dos termos de intercâmbio implica que o poder de compra de bens industriais de uma unidade de bens primários de exportação se reduz com o transcorrer do tempo. (...) Admitindo o pressuposto de que a produtividade industrial aumenta mais do que a do setor primário, a queda da relação entre preços implicará necessariamente que a relação entre as rendas tende a diminuir” (RODRIGUES, p. 39)

A deterioração implica no fato de que os frutos do progresso técnico se concentram nos centros industriais” (RODRIGUES , p. 40)

Causas da deterioração: “por ser o crescimento da indústria do centro relativamente lento e, além disso, muito escassa a mobilidade internacional da força de trabalho, surja uma tendência a se gerarem excessos de mão-de-obra na produção primária periférica. (...) incorporam-se inovações técnicas que tornam a incidir sobre as necessidades de trabalho. (...) enorme oferta de mão-de-obra que tem sua origem no crescimento vegetativo da população e nos deslocamentos produzidos pela introdução de técnicas novas nos setores atrasados. A geração contínua desse excedente de mão-de-obra constitui a causa fundamental da deterioração. (...) esse excedente exerce uma pressão constante sobre os salários pagos na produção primária de exportação e, através dos salários, sobre os preços dessa produção” (RODRIGUES, p. 41)

Outra fase do desenvolvimento é a fase para dentro, caracterizada pela substituição das importações. O fenômeno se acha ligado a transformações na economia mundial que tiveram importante significado para a periferia: “duas guerras mundiais e profunda crise econômica registrada entre elas” (p. 43); “substituição da Inglaterra pelos Estados Unidos como centro cíclico principal. (...) A importância desta mudança para o desenvolvimento periférico se prende ao caráter relativamente fechado da economia norte-americana, e à tendência à diminuição do seu coeficiente de importações” (p. 44) Há tendências idênticas à anterior, mas agora conta também com o desemprego estrutural, o desequilíbrio na Balança de Pagamentos e a deterioração dos termos de troca.

O desemprego estrutural é ligado com o processo de industrialização. Quando o processo ocorre ele é marcado por uma inadequação tecnológica e uma produção de escala que são características do centro e não adaptados à realidade periférica (como disse Wilson Cano no livro usado em Introdução à Economia) e essa combinação é que gera o desemprego estrutural.

inadequação das técnicas que se foram desenvolvendo nos centros (...) ao mesmo tempo que se desperdiça capital, a insuficiente capacidade de poupar não permite que se supere o hiato do atraso, isto é, que se elevem, substancial e rapidamente, os níveis de produtividade em múltiplos setores e atividades, de tal maneira que continuam comprometidas a eficácia do sistema e a própria capacidade de poupar. Entre os estrangulamentos setoriais, destaca-se a falta de adaptação da infra-estrutura, herdada do período de desenvolvimento voltado para fora e amoldada às necessidades de especialização primário-exportador” (p. 46 -7)

“A nosso ver, era impossível resolver o problema fundamental da pobreza sem elevar substancialmente o ritmo de acumulação, modificando ao mesmo tempo a composição do capital e, evidentemente, a estrutura produtiva. Desta maneira, seriam absorvidas no sistema, com crescentes produtividade e rendas, as grandes massas da população excluídas do desenvolvimento econômico” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9)

O desequilíbrio da balança de pagamentos é marcada pelas importações de máquinas e tecnologia, além de um aumento do endividamento internacional.

Principais características da evolução econômica a longo prazo do sistema centro-periferia:
·         A estrutura produtiva da periferia permanece atrasada;
·         O atraso estrutural desempenha um papel-chave na interpretação da tendência à deterioração dos termos de troca;
·         Os níveis de renda real média tendem a se diferenciar o que ajuda para a perpetuação da condição;
·         Existe, portanto, uma tendência ao desenvolvimento desigual dos dois pólos tanto por conta da renda real média quanto por causa da difusão e penetração do progresso técnico. “A desigualdade é vista como inerente à sua dinâmica” (p. 235)


 [AC1]Essa ideia de Furtado está  no texto de Alonso quando ele afirma que é preciso considerar a história ao analisar a economia nacional e as relações econômicas internacionais para estudar o tipo de capitalismo que surgiu em cada país e em cada época!

A mesma coisa com Geshenkron que diz que a história não é linear e existe diversas formas de capitalismo a depender dos antecedentes históricos do país.
 [AC2]Aqui pode ser usado Hirshman e os conceitos de encadeamentos da economia ao se afirmar que ela não consegue se diversificar?
 [AC3]Conceitos de Gershenkron e Alonso. Além de serem atrasados relativamente, o desenvolvimento destes países se dão em épocas distintas o que dificulta ainda mais a geração de progresso técnico – que foi o que fez a segunda leva de industrializações que conseguiram copiar a tecnologia da Inglaterra...

Nenhum comentário:

Postar um comentário