quinta-feira, 30 de maio de 2013

Ricardo: a teoria do valor e da distribuição - capítulo de RICARDO

RICARDO, D. Princípios de economia política e tributação. 2ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. Cap 1.

Prefácio

O produto da terra se divide entre as três classes: proprietários da terra (renda), o dono do capital (lucro) e os trabalhadores (salário). Ao longo da história essa distribuição será diferente, e “isso depende da fertilidade do solo, da acumulação de capital e de população e da habilidade, a engenhosidade e dos instrumentos empregados na agricultura” (p. 39) Quais são as leis naturais que regulam essa distribuição é o que é questionado por Ricardo.

Capítulo I – Sobre o Valor

Seção I – O valor de uma mercadoria, ou a quantidade de qualquer outra pela qual pode ser trocada depende da quantidade relativa de trabalho necessário para sua produção, e não da maior ou menor remuneração que é paga por esse trabalho

Ricardo começa o capítulo citando Smith e as definições de valor de troca e valor de uso. “Possuindo utilidade, as mercadorias derivam seu valor de troca de duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessária para obtê-las” (p. 43) Alguns bens dependem apenas da escassez, como obras de arte, livros e moedas raras e vinhos produzidos com uvas exóticas, exemplifica o autor que ainda diz que nestes casos o valor não pode ser reduzido pelo aumento da oferta. “Seu valor é totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente necessária para produzi-los e oscila com a modificação da riqueza e das preferências daqueles que desejam possuí-los.” (p. 44)

Ricardo diz que tanto o trabalho quanto o valor do trabalho e o valor das mercadorias no mercado sofrem flutuações devido a fatores exógenos. Ou seja, a mercadoria não reflete totalmente o valor do trabalho empregado em sua produção. “Se isso fosse verdadeiro, se a remuneração do trabalhador fosse sempre proporcional ao que ele produz, a quantidade de trabalho empregada numa mercadoria e a quantidade de trabalho que essa mercadoria compraria seriam iguais, e qualquer delas poderia medir com precisão a variação de outras coisas” (p. 45). Como há variações de preços até no trabalho que Smith definiu como o único padrão real para comparação do valor das coisas, então o que pode ser usado é a quantidade de mercadorias que pode ser comparado ao valor de uma outra mercadoria: “a quantidade comparativa de mercadorias que o trabalho produzirá é que determina o valor relativo delas, presente ou passado, e não as quantidades comparativas de mercadorias que são entregues ao trabalhador em troca de seu trabalho” (p. 46)

A variação do valor relativo entre as mercadorias pode ser descoberto a partir da comparação entre mercadorias. Pode-se concluir que seu valor aumentou ou diminuiu porque ela passou a ser trocada por mais ou menos outras mercadorias que antes. Uma causa pode ser a diminuição ou o aumento do trabalho empregado nessa mercadoria, facilidade de produção por meio de máquinas mais eficientes ou menor quantidade de trabalho necessário para obter a mercadoria (exemplo do ouro e o aumento das minas descobertas na América).

Seção II – Trabalhos de diferentes qualidades são remunerados diferentemente. Isso não é causa de variação no valor relativo das mercadorias.

Seção III – Não só o trabalho aplicado diretamente às mercadorias afeta o seu valor, mas também o trabalho gasto em implementos, ferramentas e edifícios que contribuem para sua execução

Ricardo cita o exemplo de um caçador e o instrumento utilizado por ele para matar suas presas. “Sem uma arma, nem o castor nem o gamo poderia ser morto. Portanto, o valor desses animais deveria ser regulado não apenas pelo tempo e pelo trabalho necessários à sua captura, mas também pelo tempo e pelo trabalho necessários à produção do capital do caçador: a arma, com a ajuda da qual a caça se realizava” (p. 49)

“o valor de troca das mercadorias produzidas seria proporcional ao trabalho dedicado à sua produção – não somente à produção imediata, mas também à fabricação de todos aqueles implementos ou máquinas necessários à realização do trabalho próprio ao qual foram aplicados” (p. 50)

Seção IV – O princípio de que a quantidade de trabalho empregada na produção de mercadorias regula seu valor relativo é consideravelmente modificado pelo emprego de maquinaria e de outros capitais fixos e duráveis

O capital é classificado como fixo ou circulante. Em geral circulante é aquele que pode retornar ao empresário ou então é aquele principalmente empregado no pagamento de salários (é o “capital utilizado na manutenção do trabalho” (p. 53)) enquanto o fixo é durável e representa a maquinaria, equipamentos, edificações ou mesmo a semente de trigo usada no plantio, como cita Ricardo.

“O grau de variação no valor relativo dos produtos, como resultado de um encarecimento ou barateamento do trabalho, dependerá da proporção em que o capital fixo participar do capital total” (p. 55)

“Todo melhoramento na maquinaria, nas ferramentas, nas edificações e na obtençãode matérias-primas poupa trabalho, permitindo-nos produzir mais facilmente a mercadoria à qual se aplicou a melhoria e, em consequência, o seu valor se altera. (...) as mercadorias jamais variarão de valor, a menos que maior ou menor quantidade de trabalho seja necessária para sua produção.” (p. 56)

Seção V – O princípio de que o valor não varia com o aumento ou com a queda de salários é modificado também pela desigual durabilidade do capital e pela desigual rapidez de seu retorno ao aplicador


Nenhum comentário:

Postar um comentário