DURKHEIM, Émile Da divisão social do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, ed. 2. Cap 1.
I.
Autor
Uma pesquisa básica na internet mostra que
Durkheim é considerado o pai da sociologia moderna. “Partindo da afirmação de
que ‘os fatos sociais devem ser tratados como coisas’, forneceu uma definição
do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o
indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência
coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da
sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização deste, desde que consiga
integrar-se a essa estrutura” (Wikipedia).
II.
Assunto do texto
Durkheim quer mostrar que, apesar de ser muito
criticada por conta de seu caráter econômico ter uma qualificação um tanto
quanto negativa, a divisão social do trabalho tem uma versão moral e solidária
que une pessoas e povos na complementação mútua de qualidades diversas.
III.
Mensagem do texto
Durkheim discute no primeiro capítulo do livro
“Da divisão social do trabalho” as funções que a divisão do trabalho desempenha
na sociedade. Para isso o autor discute o tema a partir de três olhares: o
da amizade, do casamento e do
direito. Usando para incorporar seus
argumentos fatos sociais como papéis das mulheres, a incompletitude do
indivíduo, bem como conceitos de ética, ciência, moral e costumes.
O autor usa
amizade e o relacionamento conjugal como uma argumentação para dar à divisão do trabalho
um caráter moral. Caráter esse que tenta
ultrapassar a ideia de que essa divisão do trabalho gera vantagens econômicas
que são compensadas por inconvenientes morais. Este é uma característica
negativa que pode ser exemplificada com o caso noticiado na imprensa brasileira
do fato de as lojas de roupas de grife da rede
Zara comercializar produtos feitos por trabalhadores contratados em
regime similar ao da escravidão. Este exemplo ilustra bem essa visão de que a
divisão do trabalho, com o tempo, beneficiou atores econômicos enquanto
subordinava uma grande massa às suas vontades e objetivos.
Ao afirmar que “é inseparável a um acréscimo de
fadiga, que o homem é obrigado a procurar como acréscimo de reparações, esses bens da civilização que,
de outro modo, não teriam interesse para ele” (p. 19), Durkheim mostra o ciclo
vicioso causado pela divisão do trabalho. Essa divisão implementa na sociedade
as necessidades dos indivíduos e estes, por sua vez, buscam incessantemente
atender a todas suas necessidades. É o que parece ser uma busca sem fim pela
propriedade de bens e uma função exponencial da oferta e da procura. Características
que ficam evidentes com a lógica do capitalismo, de usar interesses da classe
capitalista para obter benefícios em seu favor hierarquizando a sociedade e
colocando todos em função das necessidades sociais.
O autor parece tentar mostrar o outro lado da
moeda ao considerar a divisão do trabalho pela ótica da amizade e das relações
conjugais para justificar seu lado moral. Durkheim afirma que amizades são
construídas por semelhantes ou dessemelhantes, ou seja, pela simpatia de
indivíduos com qualidades similares e pela complementação mútua de indivíduos
incompletos. Essa ideia de amizade pode ser útil para ampliar os conceitos de
grupos sociais de Bauman. Um grupo, assim, seria a soma de todas as qualidades
que se complementam justamente por não
pertencerem a todos os membros. Seria um quebra-cabeça que preenche defeitos e
encaixa qualidades. Com esse argumento, Durkheim afirma que a divisão social
pode ser encarada com um caráter de solidariedade, afinal a união de indivíduos
tem por finalidade fazê-los se sentirem menos incompletos.
Essa solidariedade é o ponto que liga a amizade
ao argumento usado para reforçar o caráter moral da divisão do trabalho: a
relação conjugal. Apesar de haver um lado carnal ou uma função orgânica na
união, formal ou informal, de um homem com uma mulher, há também uma
complementação mútua e uma dependência afetiva entre dois indivíduos. Ao
discursar sobre o casamento, Durkheim fornece informações sobre o papel da
mulher na relação e na sociedade, além de ilustrar que no passado houve uma
homogeneidade entre os tipos físicos masculino e feminino e também entre as
funções desempenhadas pelos dois sexos. Este resgate é usado para mostrar a
evolução histórica e a forma como o casamento é encarado em algumas sociedades.
Essas formas podem ser políticas, por interesse financeiro,
forçadas/coercitivas ou livres – para comentar alguns dos exemplos abordados
por Durkheim, ainda reflete sobre a fidelidade e sua ligação com os tipos de
união comentados anteriormente.
Assim, a divisão social do trabalho teria a
função de “integrar o corpo social, assegurar sua unidade”, seria “a fonte, se
não a única, pelo menos a principal da solidariedade social” (p. 29).
Além de mostrar essas duas possibilidades de
encarar a divisão do trabalhao com um carater moral e solidário, Durkheim
também usa das opiniões do filósofo francês Auguste Comte. Para Comte a
repartição dos diferentes trabalhos humanos constitui a solidariedade social e
que se “torna a causa elementar da extensão e da complicação crescente do
organismo social” (p. 29). Ou seja, há aqui um sentimento de complementação das
necessidades de classes e povos, o que Comte define como solidariedade social.
Só considerando e a colocação de Comte, a divisão do trabalho teria sim um
caráter moral. Porém, Durkheim se esquece dos interesses dos capitalistas que
provavelmente não pensam em solidariedade ao idealizar o lucro.
A partir dessa ideia de solidariedade, Durkheim
avalia como elas podem ser estudadas e o principal objeto é o direito. “A vida
geral da sociedade não pode se estender num ponto sem que a vida jurídica nele
se estenda ao mesmo tempo na mesma proporção”(p.32). Apesar de considerar a
possibilidade de existir costumes e leis que poderiam estar em desacordo em um
exemplo totalmente ilusório, o autor afirma que os costumes são a base do
direito. Ou seja, o direito se molda a sociedade e a seus costumes históricos
para delimitar as ações dos indivíduos, garamtir seus direitos e assegurar a
ordem social de acordo com a cultura daquele povo. Durkheim ainda escreve sobre
direito penal, público e como eles regulam as relações sociais. O que ele quer
passar ao abordar o direito é que ele reproduz as formas principais de
solidariedade social.
IV.
Opinião do autor
Durkheim crê na vertente solidária da divisão
social do trabalho ao usar como argumento a amizade e as uniões conjugais por
conta da solidariedade social existente entre elas. Assim, ele transfere as
relações sociais básicas e toda sua dinâmica à economia, ou seja, à forma como
a economia se organiza na produção de seus berns.
V.
Diálogo
Acrescentaria nos argumentos referentes às
uniões conjugais os relacionamentos homossexuais e as mudanças na sociedade por
conta da “liberdade” e a ampliação dos direitos deste tipo de relação.
Em outro ponto, não acredito (como foi
comentado no texto acima) que a solidariedade seja considerada por todos os
atores econômicos, principalmente pela classe de capitalistas; afinal não
parece haver mais solidariedade no conceito de mais valia de Marx (arriscando
uma interpretação crítica superficial do conceito). O dinheiro quando na busca
do enriquecimento não tem moral.
Fonte: Émile Durkheim
(http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim)
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