quinta-feira, 30 de maio de 2013

Da divisão social do trabalho, cap 1

DURKHEIM, Émile Da divisão social do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, ed. 2. Cap 1.

I. Autor
Uma pesquisa básica na internet mostra que Durkheim é considerado o pai da sociologia moderna. “Partindo da afirmação de que ‘os fatos sociais devem ser tratados como coisas’, forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização deste, desde que consiga integrar-se a essa estrutura” (Wikipedia).

II. Assunto do texto
Durkheim quer mostrar que, apesar de ser muito criticada por conta de seu caráter econômico ter uma qualificação um tanto quanto negativa, a divisão social do trabalho tem uma versão moral e solidária que une pessoas e povos na complementação mútua de qualidades diversas.

III. Mensagem do texto
Durkheim discute no primeiro capítulo do livro “Da divisão social do trabalho” as funções que a divisão do trabalho desempenha na sociedade. Para isso o autor discute o tema a partir de três olhares: o da  amizade, do casamento e do direito.  Usando para incorporar seus argumentos fatos sociais como papéis das mulheres, a incompletitude do indivíduo, bem como conceitos de ética, ciência, moral e costumes.
O autor usa  amizade e o relacionamento conjugal como uma  argumentação para dar à divisão do trabalho um caráter moral. Caráter esse que tenta  ultrapassar a ideia de que essa divisão do trabalho gera vantagens econômicas que são compensadas por inconvenientes morais. Este é uma característica negativa que pode ser exemplificada com o caso noticiado na imprensa brasileira do fato de as lojas de roupas de grife da rede  Zara comercializar produtos feitos por trabalhadores contratados em regime similar ao da escravidão. Este exemplo ilustra bem essa visão de que a divisão do trabalho, com o tempo, beneficiou atores econômicos enquanto subordinava uma grande massa às suas vontades e objetivos.
Ao afirmar que “é inseparável a um acréscimo de fadiga, que o homem é obrigado a procurar como acréscimo  de reparações, esses bens da civilização que, de outro modo, não teriam interesse para ele” (p. 19), Durkheim mostra o ciclo vicioso causado pela divisão do trabalho. Essa divisão implementa na sociedade as necessidades dos indivíduos e estes, por sua vez, buscam incessantemente atender a todas suas necessidades. É o que parece ser uma busca sem fim pela propriedade de bens e uma função exponencial da oferta e da procura. Características que ficam evidentes com a lógica do capitalismo, de usar interesses da classe capitalista para obter benefícios em seu favor hierarquizando a sociedade e colocando todos em função das necessidades sociais.
O autor parece tentar mostrar o outro lado da moeda ao considerar a divisão do trabalho pela ótica da amizade e das relações conjugais para justificar seu lado moral. Durkheim afirma que amizades são construídas por semelhantes ou dessemelhantes, ou seja, pela simpatia de indivíduos com qualidades similares e pela complementação mútua de indivíduos incompletos. Essa ideia de amizade pode ser útil para ampliar os conceitos de grupos sociais de Bauman. Um grupo, assim, seria a soma de todas as qualidades que se complementam  justamente por não pertencerem a todos os membros. Seria um quebra-cabeça que preenche defeitos e encaixa qualidades. Com esse argumento, Durkheim afirma que a divisão social pode ser encarada com um caráter de solidariedade, afinal a união de indivíduos tem por finalidade fazê-los se sentirem menos incompletos.
Essa solidariedade é o ponto que liga a amizade ao argumento usado para reforçar o caráter moral da divisão do trabalho: a relação conjugal. Apesar de haver um lado carnal ou uma função orgânica na união, formal ou informal, de um homem com uma mulher, há também uma complementação mútua e uma dependência afetiva entre dois indivíduos. Ao discursar sobre o casamento, Durkheim fornece informações sobre o papel da mulher na relação e na sociedade, além de ilustrar que no passado houve uma homogeneidade entre os tipos físicos masculino e feminino e também entre as funções desempenhadas pelos dois sexos. Este resgate é usado para mostrar a evolução histórica e a forma como o casamento é encarado em algumas sociedades. Essas formas podem ser políticas, por interesse financeiro, forçadas/coercitivas ou livres – para comentar alguns dos exemplos abordados por Durkheim, ainda reflete sobre a fidelidade e sua ligação com os tipos de união comentados anteriormente. A união de dois indivíduos é usada para moralizar a divisão do trabalho:

"A imagem daquele que nos completa se torna, em nós mesmos, inseparáveis da nossa, não apenas porque é frequentemente associada a ela, mas sobretudo porque é seu complemento natural: ela se torna, pois, parte integrante e permanente da nossa consciência, a tal ponto que não podemos mais dispensá-la e que buscamos tudo o que pode aumentar sua energia” (p. 28)

Assim, a divisão social do trabalho teria a função de “integrar o corpo social, assegurar sua unidade”, seria “a fonte, se não a única, pelo menos a principal da solidariedade social” (p. 29).
Além de mostrar essas duas possibilidades de encarar a divisão do trabalhao com um carater moral e solidário, Durkheim também usa das opiniões do filósofo francês Auguste Comte. Para Comte a repartição dos diferentes trabalhos humanos constitui a solidariedade social e que se “torna a causa elementar da extensão e da complicação crescente do organismo social” (p. 29). Ou seja, há aqui um sentimento de complementação das necessidades de classes e povos, o que Comte define como solidariedade social. Só considerando e a colocação de Comte, a divisão do trabalho teria sim um caráter moral. Porém, Durkheim se esquece dos interesses dos capitalistas que provavelmente não pensam em solidariedade ao idealizar o lucro.
A partir dessa ideia de solidariedade, Durkheim avalia como elas podem ser estudadas e o principal objeto é o direito. “A vida geral da sociedade não pode se estender num ponto sem que a vida jurídica nele se estenda ao mesmo tempo na mesma proporção”(p.32). Apesar de considerar a possibilidade de existir costumes e leis que poderiam estar em desacordo em um exemplo totalmente ilusório, o autor afirma que os costumes são a base do direito. Ou seja, o direito se molda a sociedade e a seus costumes históricos para delimitar as ações dos indivíduos, garamtir seus direitos e assegurar a ordem social de acordo com a cultura daquele povo. Durkheim ainda escreve sobre direito penal, público e como eles regulam as relações sociais. O que ele quer passar ao abordar o direito é que ele reproduz as formas principais de solidariedade social.


IV. Opinião do autor
Durkheim crê na vertente solidária da divisão social do trabalho ao usar como argumento a amizade e as uniões conjugais por conta da solidariedade social existente entre elas. Assim, ele transfere as relações sociais básicas e toda sua dinâmica à economia, ou seja, à forma como a economia se organiza na produção de seus berns.

V. Diálogo
Acrescentaria nos argumentos referentes às uniões conjugais os relacionamentos homossexuais e as mudanças na sociedade por conta da “liberdade” e a ampliação dos direitos deste tipo de relação.
Em outro ponto, não acredito (como foi comentado no texto acima) que a solidariedade seja considerada por todos os atores econômicos, principalmente pela classe de capitalistas; afinal não parece haver mais solidariedade no conceito de mais valia de Marx (arriscando uma interpretação crítica superficial do conceito). O dinheiro quando na busca do enriquecimento não tem moral.



Fonte: Émile Durkheim (http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim)


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