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quinta-feira, 30 de maio de 2013

O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo

LÊNIN, Vladimir. (1917). O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo. São Paulo, Centauro, 2002. Caps. 3 e 9. Ou http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/index.htm

O novo agente é o banco que age por meio do capital monetário. Capital financeiro é a fusão de banco e indústria. Para Lenin, capital financeiro é produto do capital monopolista; para Hilferding o capital bancário domina o industrial – é uma dominação absoluta. Os dois autores chegam no capitalismo parasita, conceito que vem da oligarquia financeira criada a partir do papel de organizador e promotor do capitalismo financeiro dos bancos. Além disso, esse capitalismo traz um grau de organização e planejamento nunca antes visto que seria a base de uma economia socialista.

O imperialismo para Lênin é violento, fruto do capitalismo monopolista composto por grandes corporações representadas pelo Estado, além de ser a fase superior do capitalismo. Ele estuda o imperialismo a partir de alguns pontos como a concentração da produção e a sua expansão.
A concentração da produção começa com a crise de 1873 até 1896 e, por reduzir os capitalistas, é considerada uma “crise de crescimento” que se manifesta a partir da necessidade de expansão dos mercados para escoar o excesso de produção de bens de consumo e de capital e de capitais. Ela marca a passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista. Para Lênin há o excedente de capitais que expressam a forma como a Inglaterra domina o mundo através das ferrovias que servem para fazer o  mapeamento das fontes de matéria prima e suprem o setor de bens de capital que produz ferramentas para o setor de bens de consumo, que conta agora com o mercado consumidor colonial.

A expansão para os mercados coloniais é a segunda fase desse processo. O motor da expansão é a busca por matéria prima e pressupõe exportações de capitais para a formação do mercado consumidor. Isso tudo implica na expansão do capitalismo e na forma imperialista – um produto da formação de monopólios e prescinde da violência do Estado, quando ocorre a partilha da África e da Ásia. [E uma expansão das potências/Estados.

A Fragmentação da burguesia é um fenômeno observado por Lênin porque as sociedades anônimas dá a falsa impressão que todos são ricos com as sociedades anônimas, mas são fragmentados e dominam fatias de mercado. Opõe-se então, o proletariado nacional e a burguesia internacional.


As relações de classes têm nuances nas teorias do desenvolvimento entre centro e periferia. A Cepal entra mesmo no imperialismo, mas foca na dependência.

“Desenvolvimento do capital monopolizador”

SWEEZY, Paul. (1942). Teoria do desenvolvimento capitalista. Rio de Janeiro, Zahar, 1985. Cap. 14, “Desenvolvimento do capital monopolizador”.

As mudanças no capital orgânico e a geração de excedente para Marx é uma oposição à ideia clássica de trocas como naturais e a distribuição da renda. Marx mostra que não são processos naturais, porém, determinados historicamente com suas próprias leis. As consequências previstas por Marx para a lei geral da acumulação eram a concentração do capital (sinônimo de acumulação crescente) que caminha com uma produção em escala maior, e a centralização. Uma ressalva sobre a concentração considera um elemento isolado e sua acumulação crescente.

A centralização pressupõe uma mudança na distribuição dos capitais. É uma forma de o capital produtivo mais flexível em formas moveis e fixas do ponto de vista das emissões de assunto. A crise de 1873 a 1896 trouxe a centralização com a absorção dos capitalistas menores e quebrados pelos maiores. Outro processo que contribuiu para a centralização foi a criação das sociedades anônimas, que existia desde o século XVI e supõe a fusão das empresas. O primeiro processo, consequência dessa crise, resulta, no limite, nos monopólios que surgem com a apropriação de empresas que se prejudicaram com a crise.

A concentração e a centralização afetam a composição orgânica do capital – instrumento usado na concorrência para eliminar empresas no mesmo mercado a partir do aumento da produtividade. A mudança da composição orgânica do capital elimina a concorrência e caminha para a centralização.

A propriedade privada assume a forma de uma propriedade coletiva, um capital social, com a centralização. Todo o processo aumenta a escala da produção do excedente pelo modo mais simples pela concentração ou pelo modo selvagem, a centralização.

Sociedades anônimas são a união de capitalistas menores em um conjunto maior. Para Marx, as companhias ferroviárias não teriam existido sem as sociedades anônimas. As SAs assuem relações distintas dependendo do país onde é formada: na Inglaterra elas eram financiadas por indivíduos, já na Alemanha o financiamento vinha dos bancos.

Acordos tácitos entre empresas são observados nas crises, depois da segunda revolução industrial que envolveu a indústria pesada e dependia de grandes capitais. Os acordos são definidos entre grandes indústrias estipulando cotas de produção ou coordenação do preço, com ou sem respaldo do Estado. Os acordos podem ser informais, pool, trustes, cartéis ou fusões.


Os bancos para Sweezy, ao criticas Hilferding, assumem grande importância como principais acionistas das empresas – uma posição que se fortaleceu entre 1890 a 1910. Também são os financiadores da indústria.

“Natureza e implicações da ´heterogeneidade estrutural’ na América Latina”

PINTO, Aníbal (1970) “Natureza e implicações da ´heterogeneidade estrutural’ na América Latina”. In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.) Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. II. Rio de Janeiro, Cofecon-Cepal; Record, 2000  pp. 569-588.

O grau de subdesenvolvimento depende da matéria prima exportada, do grau de autonomia do Estado e da presença da economia tradicional.

A substituição de importações era o caminho acreditado para o desenvolvimento das economias subdesenvolvidas, porém a poupança é gasta com bens de consumo duráveis que é consumido por uma classe pequena e desvirtua todo o caminho.

A heterogeneidade estrutural vai se multiplicando ao longo da industrialização. Um dos fatores que contribuem para isso é a distribuição de renda agravada pelo desemprego estrutural gerado pela inadequação tecnológica.

Outro fator é a divisão da sociedade em camadas. A mesma relação que distingue o centro da periferia pela produtividade marca as divisões internas entre centros industriais e periferias. O centro tende a concentrar os excedentes e os investimentos e sua produtividade maior também gera uma deterioração dos termos de troca internamente nessa economia. Neste cenário, a heterogeneidade estrutural distancia ainda mais o centro e a periferia internas; e os centros da periferia concentram os investimentos externos, canalizam as divisas e fazem investimentos desse mesmo centro; além de se aproximarem dos centros internacionais.

Porque o projeto de substituição de importações falhou?

- Primeiro porque a natureza da dependência econômica e tecnológica mudam e mudam rápido. A tecnologia fica obsoleta muito rápido e muda também as dependências financeiras e culturais também (por cultura entende-se o consumo);
- O segundo motivo se deve ao ritmo dos ciclos econômicos que impedem que os desenvolvimentos se tornem autossustentados principalmente porque ele é feito aos saltos; além do que não se tem todos os departamentos desenvolvidos.
- Grandes segmentos da população, da estrutura produtiva e do espaço econômico foram marginalizados, em caráter absoluto ou substancial, do avanço registrado no “polo moderno”;
- Essa diferenciação e marginalização daqueles não ligados ao polo moderno se acentua;


“Em suma, a capacidade de irradiação ou impulsionamento do ‘setor moderno’ revelou-se, para dizer o mínimo, muito menor do que a esperada. Assim sendo, mais do que um progresso para a ‘homogeneização’ da estrutura global, perfila-se um aprofundamento de sua heterogeneidade” (p. 575)

“Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”

FURTADO, Celso (1961) “Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”. In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.) Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. I. Rio de Janeiro, Cofecon-Cepal; Record, 2000, pp. 239 a 262.

Quando Furtado fala de modelo clássico, ele se refere aos países centrais, economias industrializadas no recorte a partir do século XVIII, considerando principalmente a Inglaterra para seu estudo.

A revolução industrial na Inglaterra agiu principalmente numa redução dos custos para atender à demanda que pressionava o mercado. Num primeiro momento Furtado trabalha com os setores manufatureiros de bens de consumo e de capital. Queda nos preços dos bens de consumo representavam aumento dos lucros e consequentemente um aumento da poupança dos capitalistas (assim como Lewis) e isso permite investimento no setor de manufatura e aumento da produtividade. Ocorre toda uma cadeia lógica da força de trabalho entre manufaturados, bens de capital e setor agrícola. A produtividade não dispensa mão-de-obra, mas diminui a sua necessidade. O que ocorre com a movimentação de força de trabalho entre esses três setores é que a mão de obra passa de elástica para inelástica até que, neste ponto, ocorre aumento de salário e esses países passam a escoar sua produção para o exterior. Há, no final do processo, uma acomodação da mão-de-obra nos três setores que são homogêneas em tecnologia, a economia se diversifica.

Segundo Furtado, “A primeira fase do desenvolvimento industrial se caracterizou por um aumento substancial da participação da indústria de bens de capital – sobretudo da indústria de equipamentos – no total da produção industrial” (p. 248). Uma modificação acompanhada de alterações na distribuição de renda, mas com um crescimento maior dos lucros que dos salários. A segunda fase foi marcada por um descompasso ou “desequilíbrio” entre a capacidade de produção de bens de capital e a possibilidade de absorção dos mesmos.

Na periferia, o setor agrícola e o primário exportador convivem sendo o primeiro tradicional e o segundo intensivo em tecnologia. As economias subdesenvolvidas passam pelo choque da Primeira Guerra Mundial e são obrigadas a ocupar sua capacidade ociosa e inicia a substituição de importações e o setor de manufaturados.

Passado o choque externo, um momento mais favorável para o setor primário exportador que acumula divisas para investir na produção de bens de capital. O setor tradicional não é transformado a fundo o que prejudica a economia porque desequilibra a balança de pagamentos por conta das importações para bens de capital. Há, portanto, níveis diferentes de tecnologia nos setores dessa economia.

“A resultante foi quase sempre a criação de estruturas híbridas, uma parte das quais tendia a comportar-se como um sistema capitalista, a outra, a manter-se dentro da estrutura preexistente. Esse tipo de economia dualista constitui, especificamente, o fenômeno do subdesenvolvimento contemporâneo. O subdesenvolvimento é, portanto, um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento” (p. 253)

“Apenas uma reduzida fração da mão-de-obra disponível é absorvida pela empresa forânea; os salários pagos a essa mão-de-obra não são determinados pelo nível de produtividade da empresa e, sim, pelas condições de vida prevalecente na região” (p. 254), ou seja, é possível se pagar pouco, uma vez que o padrão de vida na periferia é diferente daquele observado no centro.

Nas fases de forte declínio dos preços de exportação, a rentabilidade dos negócios ligados ao mercado interno tende a crescer, em termos relativos, pois aumentam os preços das mercadorias importadas ao mesmo tempo que mantém o nível da renda” (p. 257)


O subdesenvolvimento “é, em si, um processo particular, resultante da penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas” (p. 261).

"Problemas teóricos e práticos do crescimento econômico"

PREBISCH, Raul (1952). "Problemas teóricos e práticos do crescimento econômico". Item I (“O progresso técnico dos centros industrializados e a demanda de produtos primários”). In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.) Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. I. Rio de Janeiro, Cofecon-Cepal; Record, 2000, vol. I, pp. 181-5.

Proposições teóricas:
- A industrialização é a forma de crescimento imposta pelo progresso técnico nos países latino-americanos
- esse crescimento da economia traz consigo algumas tendências persistentes de desequilíbrio externo. Esses desequilíbrios são causados por conta das formas de produzir e da demanda e do modo como a população ativa se distribui para satisfazer essa demanda interna e externa.

“Em geral, o progresso técnico foi reduzindo a proporção em que os produtos primários intervêm no valor dos produtos finais” (p. 182) Razões que explicam esse fato são as transformações técnicas que diminuem a proporção das matérias-primas no produto final; avanços técnicos melhora o uso das matérias e similares; e materiais sintéticos. “Assim, as inovações técnicas foram o fator dinâmico que provocou as mudanças mais notáveis na demanda” (p. 183). Consequentemente há nova busca de formas de atender às necessidades dos indivíduos. Um aumento na renda não significa aumento do consumo de produtos primários e cresce a demanda de serviços. Além disso, os centros intensificam sua produção de produtos primários o que os permite até competir com a periferia no mercado externo. Ademais, o centro protege sua produção. Quanto a isso, Prebisch admite que “o protecionismo do centro simplesmente acentua o deslocamento obrigatório da população periférica da produção primária para a secundária e os serviços, pois esse deslocamento, em última instância, é resultante da propagação do progresso técnico” (p. 184).


“Daí a necessidade dinâmica da industrialização, para que o crescimento da economia possa realizar-se num ritmo superior ao do crescimento das exportações primárias. A industrialização absorve uma parte da população disponível e contribui para que uma outra parte seja absorvida em atividades correlatas, como os transportes e o comércio, que se desenvolvem paralelamente” (p. 185)

"O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus principais problemas"

PREBISCH, Raul (1949). "O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus principais problemas". Item II (“Os benefícios do progresso técnico e os países da periferia”). In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.) Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. I. Rio de Janeiro, Cofecon-Cepal; Record, 2000, pp. 80-88.

Para Prebisch a América Latina deve ser entendida como um todo por conta de seu passado colonial e a formação dos países como primários exportadores dentro da Divisão Internacional do Trabalho com a industrialização do centro. Há para ele problemas comuns na América Latina:

I)                    industrialização por substituição das importações que imita as técnicas e produtos mais simples primeiro;

“Os imensos benefícios do desenvolvimento da produtividade não chegaram à periferia numa medida comparável àquela de que logrou desfrutar a população desses grandes países. Daí as acentuadíssimas diferenças nos padrões de vida das massas destes e daquela, assim como as notórias discrepâncias entre as suas respectivas forças de capitalização, uma vez que a massa de poupança depende primordialmente do aumento da produtividade” (p. 72)

“Daí a importância fundamental da industrialização dos novos países. Ela não constitui um fim em si, mas é o único meio de que estes dispõem para ir captando uma parte do fruto do progresso técnico e elevando progressivamente o padrão de vida das massas” (p. 72)

II)                  não é possível a periferia passar pelas mesmas etapas dos países do centro, uma ideia parecida com a de Trótski;

III)                foco no setor primário que é exportador e não pode ser substituído porque ele é o gerador de divisas;
“Quanto mais ativo for o comércio exterior da América Latina, tanto maiores serão as possibilidades de aumentar a produtividade de seu trabalho, mediante uma intensa formação de capital. A solução não está em crescer à custa do comércio exterior, mas em saber extrair, de um comércio exterior cada vez maior, os elementos propulsores do desenvolvimento econômico” (p. 73)

IV)               inadequação tecnológica e inadequação das plantas por conta do mercado estreito da periferia;
V)                 alto grau de dependência do investimento externo. As consequências para o Estado é o endividamento externo e a criação da dívida pública e a estratégia para a criação da poupança para o Estado, por meio de impostos e a conversão em Investimento e não em Consumo;
“Ninguém discute que o desenvolvimento econômico de certos países da América Latina e sua rápida assimilação da técnica moderna, em tudo o que lhes possa ser proveitoso dependem em alto grau dos investimentos estrangeiros. Esse problema não é nada simples por todas as implicações que contém. Entre seus fatores negativos, convém relembrar, antes de mais nada, o descumprimento dos serviços financeiros durante a grande depressão dos anos 1930.” (p. 75)

VI)               política monetária: ideia de inflação não é dependente da política monetária. O preço tem uma relação cm oferta e demanda e, como Hirshman, é fruto dos estrangulamentos dessa economia. Dizer que esse problema é estrutural é ligar os preços ao estrangulamento;

VII)             Formação de capital: têm-se uma baixa produtividade, baixos salários, renda e mercado estreito, assim como Nurkse e o ciclo da estagnação; e pelo salário e incapacidade de poupar é o ciclo da pobreza. Prebisch concorda com Lewis que a formação de capital vem da classe capitalista;
“Na maior parte dos países latino-americanos, a poupança espontânea é insuficiente para cobrir suas necessidades mais prementes de capital” (p. 76)

“A elevação do padrão de vida das massas depende, em última instância, de uma expressiva quantidade de capital por trabalhador empregado na indústria, nos transportes e na produção primária, e da capacidade de bem administrá-lo. (...) a formação de capital tem que lutar contra uma tendência muito acentuada a certas modalidades de consumo, que muitas vezes se mostram incompatíveis com um grau elevado de capitalização” (p. 76)

“O crescimento do emprego requerido pelo desenvolvimento industrial pôde efetuar-se, embora não na totalidade dos casos, com a utilização de pessoas que o progresso da técnica vinha desalojando da produção primária [AC1] e de outras atividades, especialmente de certos tipos de trabalhos e serviços pessoais de remuneração relativamente baixa, e mediante a utilização do trabalho feminino. O emprego industrial das pessoas desempregadas ou mal empregadas significou, portanto, uma melhoria da produtividade, que se traduziu num aumento líquido da renda nacional, nos casos em que não houve fatores de outra natureza que provocassem uma queda geral da eficácia produtiva” (p. 77).

VIII)           Inflação: para Prebisch é estrutural e não monetária e temporária como dizia Lewis;
IX)                Caráter da política anticíclica

“Quanto a esse aspecto, é necessário definir com precisão o objetivo que se persegue através da industrialização. Quando ela é considerada como o meio para atingir um ideal de auto suficiência, no qual as considerações econômicas passam para segundo plano, qualquer indústria que substitua importações torna-se admissível. Se o objetivo, no entanto, é aumentar aquilo que com acerto se denominou de bem-estar mensurável das masas, é preciso ter em mente os limites além dos quais uma industrialização maior poderia significar uma quebra da produtividade.” (p. 78)

Prebisch cita três limites para a industrialização na periferia. O primeiro é a elevação do nível de salários para uma correção do desequilíbrio da renda entre centro e periferia. “Outro desses limites é dado pelas considerações relativas à dimensão ótima das empresas industriais. Nos países da América Latina, de um modo geral, vem-se procurando desenvolver, do lado de cá da fronteira, as mesmas indústrias existentes do lado de lá. Isso tende a diminuir a eficiência produtiva e conspira contra a consecução do objetivo social buscado” (p. 79) e “A possibilidade de que se venha a inutilizar uma parte importante do fruto do progresso técnico em função de um fracionamento excessivo dos mercados é, portanto, outro dos limites do desenvolvimento industrial de nossos países” (p. 79).

II. Os benefícios do progresso técnico e os países da periferia

Progresso técnico beneficiou principalmente os países centrais e na periferia “parece” ter sido mais acentuado no setor primário exportador que na indústria. Considerando a movimentação de preços durante as crises e durante a segunda guerra mundial, Prebisch formula considerações:

“Primeiro: os preços não baixam de acordo com o progresso técnico, pois enquanto, por um lado, o custo tendeu a baixar em virtude do aumento da produtividade, por outro, elevou-se a renda dos empresários e dos fatores produtivos.” (p. 83)

Segundo: o crescimento da renda foi desproporcional ao aumento das produtividades o que gera diferença na relação de preços entre produtos primários e industriais.

Terceiro: historicamente a relação se deslocou desfavoravelmente aos produtos primários entre 1870 e 1930 por conta de crises e aumento de produtividades maior na indústria e no centro por elevação mais acentuada no padrão de vida do centro sustentado pelos países periféricos que compraram produtos manufaturados.

“Enquanto os centros preservaram integralmente o fruto do progresso técnico de sua indústria, os países periféricos transferiram para eles uma parte do fruto do seu próprio progresso técnico” (p. 83)

“Seria impossível compreender a razão desse fenômeno sem relacioná-lo com o movimento cíclico da economia e com a forma como ele se manifesta nos centros e na periferia, porque o ciclo é a forma característica do crescimento da economia capitalista, e o aumento da produtividade é um dos fatores primordiais do crescimento. No processo cíclico, há uma disparidade contínua entre a demanda e a oferta globais de artigos de consumo produzidos nos centros cíclicos. Na fase ascendente, a demanda ultrapassa a oferta e na descendente ocorre o inverso” (p. 86)

Ocorre uma transferência de lucro entre centro e periferia, ou seja, quanto maior a demanda e menor a capacidade de ofertar, maiores os preços e maior o lucro do centro é gasto com produtos primários. O problema todo está na incapacidade de correção da disparidade entre oferta e demanda nos diferentes momentos do ciclo e a incapacidade de negociação e defesa dos salários na periferia. Por conta dos salário e do poder sindical no centro, a pressão por proteção dos lucros dos capitalistas e proteção do padrão de vida dos trabalhadores, ambos no centro, se desloca para a periferia onde os preços dos produtos exportados são mais elásticos por conta da capacidade de variações no salário.

III. A América Latina e a alta produtividade dos Estados Unidos

A mudança do centro cíclico mundial da Grã-Bretanha para os Estados Unidos teve um papel importante por conta do desenvolvimento da sua produtividade. “Os países da América Latina, com um alto coeficiente do comércio exterior, são extremamente sensíveis a essas repercussões econômicos” (p. 88)

Os Estados Unidos chegaram a coeficientes baixos de importação por conta do seu progresso técnico. “Ainda que isso pareça paradoxal, o aumento da produtividade contribuiu para que aquele país prosseguisse em sua política protecionista e a acentuasse, depois de atingir a etapa de maturidade econômica” (p. 90)

“Quando o centro principal contrai sua renda, na fase cíclica minguante, ele tende a propagar essa contração para o resto do mundo. Quando a renda deste último não  diminui simultaneamente e com a mesma intensidade, mas o faz com certo atraso, surge um desequilíbrio na balança de pagamentos: o centro, por diminuir sua renda mais depressa, também restringe suas importações e demais parcelar passivas com mais intensidade do que o resto do mundo, com o que este se vê forçado a lhe enviar outro” (p. 95)


 [AC1]Lewis abordou o mesmo processo em 1954 ao tratar da oferta ilimitada da mão-de-obra e a necessidade de investir na técnica do setor primário para liberar trabalhadores para o setor de bens de capital em países pouco populosos.

A CEPAL e a especificidade do desenvolvimento latino-americano

RODRIGUEZ, Octavio. Teoria do Subdesenvolvimento da Cepal. Prefácio, caps. 1 e 9. Rio de Janeiro, Forense, 1981.

O que os teóricos da Cepal criticam em Rostow é sua teoria sobre as fases ou etapas do desenvolvimento. Ao contrário desse teórico, os cepalinos acreditam que a condição de subdesenvolvimento tende a se reproduzir, permanecer.

Outro ponto do diálogo é o do comércio exterior. Os teóricos da TDE não estabeleciam as características das divisões do trabalho apesar de serem contrários à teoria das vantagens comparativas. Já os cepalinos consideram o comércio exterior como o centro da teoria do conceito centro-periferia que divide a indústria para o centro, citam “centros industrializados”, e a exportação de matéria-prima para os países periféricos. As propostas e tendências DA Cepal também são contra a Teoria das Vantagens Comparativas porque e ela que cria os países subdesenvolvidos e faz essa condição se perpetuar. De Hirshman, a Cepal tira a não capacidade de encadeamento da economia atrasada.

No caso das relações centro-periferia, existem estruturas produtivas muito díspares, que impediriam o nosso desenvolvimento, se não houvesse um esforço tenaz e deliberado de recondicionamento estrutural nas relações de troca com os centros, o que exige combinar tradicionalmente as exportações industriais e a substituição de importações” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9)

Nesse par de conceitos está implícita a ideia de um desenvolvimento desigual originário. Consideram-se centros as economias em que penetram primeiro as técnicas capitalistas de produção. A periferia está constituída pelas economias cuja produção permanece inicialmente atrasada, do ponto de vista tecnológico e organizativo” (p. 37)

Entende-se que centros e periferia se constituem historicamente como resultado da forma pela qual o progresso técnico se difunde na economia mundial. Nos centros, os métodos indiretos de produção gerados pelo progresso técnico se difundem em um período de tempo relativamente breve, pela totalidade do aparelho produtivo. Na periferia, parte-se de um atraso inicial e, no transcorrer da fase dita do ‘desenvolvimento para fora’, as técnicas novas só são implantadas nos setores exportadores de produtos primários e em algumas atividades econômicas diretamente relacionadas com a exportação, as quais passam a coexistir com os setores atrasados no que diz respeito à penetração das novas técnicas e ao nível da produtividade do trabalho” (RODRIGUES, p. 37)

O texto de Furtado de 1961 é que apresenta os conceitos de subdesesnvolvimento e desenvolvimento, conceitos estes dinâmicos, enquanto centro-periferia é um conceito estrutural. A “inovação” de Furtado é dizer que o subdesenvolvimento é um tipo de desenvolvimento, com seu capitalismo específico [AC1] e que não se supera. O subdesenvolvimento é pensado como estrutura, não um estágio, é uma complementaridade historicamente estruturada.

As economias periféricas adquirem dos traços fundamentais: um caráter especializado e heterogêneo. O critério para caracterizar heterogeneidade e homogeneidade é a tecnologia. A difusão tecnológica nos países centrais foi feita de forma lenta e igualitária possibilitando que os setores industrial e agrícola não fossem tão díspares quanto na periferia.

A estrutura mencionada é heterogênea ou parcialmente atrasada, no sentido de que coexistem em seu seio setores em que a produtividade alcança os níveis mais altos do mundo – ou particularmente o setor exportador – e atividades em que se utilizam tecnologias antiquadas, nas quais a produtividade do trabalho é muito inferior à que se pode encontrar nas atividades similares nos centros” (RODRIGUES, p. 38)

A especialização dos países periféricos também é um problema estrutural porque impede uma diversificação horizontal [AC2] da economia e também confere pouca complementaridade entre os setores.

Essa estrutura é especializada num duplo sentido: as exportações se concentram em um ou alguns poucos bens primários; a diversificação horizontal, a complementariedade intersetorial e a integração vertical da produção têm um desenvolvimento pequeno, de tal forma que um espectro muito amplo de bens – sobretudo manufaturas – tem que ser conseguido mediante importação” (RODRIGUES, p. 233-4)

A fase do desenvolvimento para fora é uma característica de final do século XIX nos países periféricos e dura até 1930. É um mundo marcado pelo capitalista monopolístico que reforça o caráter primário exportador das economias periféricas. “’A heterogeneidade e a especialização conformam-se e se consolidam nessa etapa, dado que no seu desenrolar, a periferia cresce primordialmente com base na expansão das atividades exportadoras de bens primários” (RODRIGUES, p. 234) Essas tendências reforçam sua estrutura: um componente estrutural é a diferença de produtividade industrial e primária, um dualismo estrutural, o que marca também as diferenças entre o centro produtivo e a periferia pouco produtiva. “Não é difícil perceber que, nesta diferenciação, subjaz a desigualdade entre as estruturas produtivas, pois o atraso relativo [AC3] de sua própria estrutura impede a periferia de gear progresso técnico e incorporá-lo ao processo de produção em proporção similar à dos centros” (RODRIGUES, p. 42)

Outra tendência é a deterioração dos termos de troca. A renda dos países periféricos é menor que a do central “A distribuição de renda é explicada primordialmente por um jogo de relações de poder que surge das mutações da estrutura social. O mercado reflete esses fenômenos estruturais e funciona bem ou mal, segundo a distribuição” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9); além disso os produtos primários agregam pouco valor e a oferta é elástica e varia de acordo com a variação da renda e produzida de acordo com a capacidade da terra enquanto que a demanda é inelástica.; Além disso, essa deterioração tem origem também nos ciclos da economia: quando há movimentos de alta e baixa e afetam as exportações da periferia, até porque os centros conseguem pressionar os preços da periferia para baixo. Os preços dos produtos industrializados nas baixas do ciclo não caem pelo fato de os salários dos países centrais serem mais rígidos enquanto que os preços das exportações de periféricos caem assim como os salários internos na periferia.

“deterioração dos termos de troca (...) esse fenômeno é expressão de uma tendência a longo prazo, inerente ao intercâmbio de bens primários de exportação da periferia por bens industriais exportados pelos centros. (...) Por definição, a deterioração dos termos de intercâmbio implica que o poder de compra de bens industriais de uma unidade de bens primários de exportação se reduz com o transcorrer do tempo. (...) Admitindo o pressuposto de que a produtividade industrial aumenta mais do que a do setor primário, a queda da relação entre preços implicará necessariamente que a relação entre as rendas tende a diminuir” (RODRIGUES, p. 39)

A deterioração implica no fato de que os frutos do progresso técnico se concentram nos centros industriais” (RODRIGUES , p. 40)

Causas da deterioração: “por ser o crescimento da indústria do centro relativamente lento e, além disso, muito escassa a mobilidade internacional da força de trabalho, surja uma tendência a se gerarem excessos de mão-de-obra na produção primária periférica. (...) incorporam-se inovações técnicas que tornam a incidir sobre as necessidades de trabalho. (...) enorme oferta de mão-de-obra que tem sua origem no crescimento vegetativo da população e nos deslocamentos produzidos pela introdução de técnicas novas nos setores atrasados. A geração contínua desse excedente de mão-de-obra constitui a causa fundamental da deterioração. (...) esse excedente exerce uma pressão constante sobre os salários pagos na produção primária de exportação e, através dos salários, sobre os preços dessa produção” (RODRIGUES, p. 41)

Outra fase do desenvolvimento é a fase para dentro, caracterizada pela substituição das importações. O fenômeno se acha ligado a transformações na economia mundial que tiveram importante significado para a periferia: “duas guerras mundiais e profunda crise econômica registrada entre elas” (p. 43); “substituição da Inglaterra pelos Estados Unidos como centro cíclico principal. (...) A importância desta mudança para o desenvolvimento periférico se prende ao caráter relativamente fechado da economia norte-americana, e à tendência à diminuição do seu coeficiente de importações” (p. 44) Há tendências idênticas à anterior, mas agora conta também com o desemprego estrutural, o desequilíbrio na Balança de Pagamentos e a deterioração dos termos de troca.

O desemprego estrutural é ligado com o processo de industrialização. Quando o processo ocorre ele é marcado por uma inadequação tecnológica e uma produção de escala que são características do centro e não adaptados à realidade periférica (como disse Wilson Cano no livro usado em Introdução à Economia) e essa combinação é que gera o desemprego estrutural.

inadequação das técnicas que se foram desenvolvendo nos centros (...) ao mesmo tempo que se desperdiça capital, a insuficiente capacidade de poupar não permite que se supere o hiato do atraso, isto é, que se elevem, substancial e rapidamente, os níveis de produtividade em múltiplos setores e atividades, de tal maneira que continuam comprometidas a eficácia do sistema e a própria capacidade de poupar. Entre os estrangulamentos setoriais, destaca-se a falta de adaptação da infra-estrutura, herdada do período de desenvolvimento voltado para fora e amoldada às necessidades de especialização primário-exportador” (p. 46 -7)

“A nosso ver, era impossível resolver o problema fundamental da pobreza sem elevar substancialmente o ritmo de acumulação, modificando ao mesmo tempo a composição do capital e, evidentemente, a estrutura produtiva. Desta maneira, seriam absorvidas no sistema, com crescentes produtividade e rendas, as grandes massas da população excluídas do desenvolvimento econômico” (PREBISCH In: RODRIGUES p. 9)

O desequilíbrio da balança de pagamentos é marcada pelas importações de máquinas e tecnologia, além de um aumento do endividamento internacional.

Principais características da evolução econômica a longo prazo do sistema centro-periferia:
·         A estrutura produtiva da periferia permanece atrasada;
·         O atraso estrutural desempenha um papel-chave na interpretação da tendência à deterioração dos termos de troca;
·         Os níveis de renda real média tendem a se diferenciar o que ajuda para a perpetuação da condição;
·         Existe, portanto, uma tendência ao desenvolvimento desigual dos dois pólos tanto por conta da renda real média quanto por causa da difusão e penetração do progresso técnico. “A desigualdade é vista como inerente à sua dinâmica” (p. 235)


 [AC1]Essa ideia de Furtado está  no texto de Alonso quando ele afirma que é preciso considerar a história ao analisar a economia nacional e as relações econômicas internacionais para estudar o tipo de capitalismo que surgiu em cada país e em cada época!

A mesma coisa com Geshenkron que diz que a história não é linear e existe diversas formas de capitalismo a depender dos antecedentes históricos do país.
 [AC2]Aqui pode ser usado Hirshman e os conceitos de encadeamentos da economia ao se afirmar que ela não consegue se diversificar?
 [AC3]Conceitos de Gershenkron e Alonso. Além de serem atrasados relativamente, o desenvolvimento destes países se dão em épocas distintas o que dificulta ainda mais a geração de progresso técnico – que foi o que fez a segunda leva de industrializações que conseguiram copiar a tecnologia da Inglaterra...

Anotações das aulas de Desenvolvimento Sócio-econômico: A teoria do subdesenvolvimento - revisão

4.a) Origem da teoria e seus determinantes

A teoria do subdesenvolvimento surge no pós-1945 e toma força na década de 1950 marcando um retorno à problemática da economia política clássica. Os neocássicos discutiram teorias da produção e teorias do consumo; os indivíduos para eles são maximizadores de lucros; trabalha com a escassez de bens e fatores; usam a ciência para uma distribuição ótima desses bens escassos.
Para Keynes o investimento é a variável central. Ele considera o efeito multiplicador do investimento, a poupança como sendo ex-post; para o investimento há o mercado de crédito – portanto ele não depende da poupança; e há inflação próximo do pleno emprego.
Já na teoria do subdesenvolvimento a variável central é o consumo. O efeito multiplicador não e aplica e essas economias atrasadas não têm mercado de crédito, por isso a poupança é importante para determinar o investimento. Como a mão de obra é abundante e desorganizada, não há inflação.  Pontos que marcam um resgate da economia clássica pelos teóricos do desenvolvimento:

“A escola clássica de pensamento econômico, que se seguiu aos mercantilistas, tinha, segundo Marx, um elemento analítico unificador: o conceito de excedente, fundamental para se determinarem variáveis econômicas como distribuição de renda, preços relativos e acumulação de capital. (...) Assim, no componente analítico central da escola clássica fica explícita a preocupação com a questão do desenvolvimento das forças produtivas e sua ligação direta com a teoria da distribuição dos preços” (8-9)

O Estado volta à discussão com um papel fundamental. Na Rússia os planos quinquenais mostram que é importante o planejamento econômico; a crise de 1929 também ressalta a importância de políticas de estabilização fiscal e monetária.
No pós-guerra o papel central do Estado também é reforçado pela influência da União Soviética com as revoluções socialistas e os investimentos feitos no exterior – pontos que alertam os Estados Unidos. Além disso esse período é marcado por uma descolonização da África e da Ásia e os seus futuros posicionamentos políticos também chama a atenção do mundo bipolar. O Estado também é chamado para investir na reconstrução da Europa e na coordenação dessas aplicações. Ademais, o pós-guerra reforça as diferenças entre os países industrializados e os agrícolas. Esses pontos são explorados por Bastos & Brito (2010):

“A crise do entre guerras e a própria organização da vida econômica nos diversos países enfraqueceram o dogma liberal do século XIX” (p. 8)

“Um primeiro elemento central foi o próprio fim da era liberal, sob a égide da Inglaterra do século XIX, após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ou, para usar o título de um texto clássico de Keynes, ‘o fim do laissez-faire’. (...) Na década de 1930 rompe-se definitivamente o padrão de comércio internacional que, supostamente, estava na base da ordem liberal. Surge, então, uma estrutura de comércio autárquica, marcada pelo nascimento de blocos de países, e a ideia de um Estado mínimo é substituída pela de um Estado ativo e interventor, com o abandono paulatino da obsessão por ‘finanças saudáveis’, ou seja, equilíbrio orçamentário.” (p. 10)

“Outro fator ocorrido no entre guerras, que teve forte influência sobre o ambiente intelectual do após-guerra, foi o padrão de intervenção e planejamento econômico da ex-União Soviética. (...) A ruptura do padrão de intervenção pública na economia se aprofundou durante a Segunda Guerra Mundial. As economias nacionais passaram a funcionar em situação de esforço de guerra, com alto grau de intervencionismo, conferindo ao planejamento um caráter científico e sistemático. Na política econômica, tais experiências consolidam a revolução keynesiana. (...) A obra de Keynes era interpretada, corretamente, como centrada em questões de curto prazo, ou nas flutuações econômicas, e não no desenvolvimento. Mesmo se fosse estendida para o longo prazo não daria conta das questões relevantes para os países subdesenvolvidos.” (10-11)

“O movimento de descolonização, ocorrido na Ásia e na África, foi outro elemento de grande importância geopolítica na criação de um clima favorável a teorias políticas de desenvolvimento econômico. O surgimento das novas nações tornou necessárias políticas específicas para elas. (...) os Estados Unidos, para concorrer ideológica e politicamente com a União Soviética, se veem quase compelidos a estimular a elevação do padrão de vida dos países a fim de afastá-los da ‘tentação’ socialista (estratégia Truman com o Plano Marshal; Programa Ponto IV)” (11)

“Finalmente, embora não explicitamente, um elemento crucial que está por trás  da agenda desenvolvimentista do período e a questão da convergência. Observando o crescimento da economia de uma perspectiva de longo prazo, pode-se observar que o padrão do crescimento da renda per capita se altera a partir da expansão do capitalismo. (...) Esse crescimento ‘intensivo’ foi desigual, pois o crescimento de países e mesmo regiões mundiais ocorreu em velocidades muito distintas, produzindo um distanciamento nas respectivas rendas per capitas (divergências regionais)” (12)

“Outro argumento, proposto por Prebisch (1949), (...) também reforçava a ideia de que o livre comércio internacional dificilmente poderia exercer uma força propulsora na economia internacional. (Ele cita o caso da economia dos Estados Unidos que não estimulou arranjos dinâmicos e complementares no comércio exterior)” 13

4.b) Conceitos de subdesenvolvimento

Os conceitos de subdesenvolvimento para os teóricos do desenvolvimento são distintos. Bastos e Brito, citam como exemplo Myint que considera as comparações com padrões de consumo externos como influência para a definição de economia atrasada; Lewis que admite uma heterogeneidade industrial entre o setor moderno mais capitalizado e um dominado pela produção para subsistência, com baixa produtividade e excedente estrutural de mão-de-obra; e Kuznets que considera que “a tensão nos países subdesenvolvidos é gerada pelo conhecimento do sucesso em outras partes do mundo” (p. 17).
Outro conceito de subdesenvolvimento apresentado por Bastos e Brito é o de Nurkse:

“O subdesenvolvimento caracteriza-se por dois círculos viciosos. Por um lado, nos países atrasados a baixa renda deve-se à baixa produtividade, determinada pela escassez de capital. Esta, por sua vez, eplica-se pela baixa capacidade de investir, derivada da baixa poupança, decorrente do baixo nível de renda, ou seja, da limitada dimensão do mercado. Contudo, o tamanho do mercado depende crucialmente da produtividade, que é função do uso de capital, que é determinado, no nível do empresário individual, pelo tamanho do mercado.” (27)

Nurkse e Rosenstein-Rodan identificam o subdesenvolvimento com economias ainda agrárias.
Lewis (1956) analisa o excedente e quebra o postulado neoclássico que diz que os bens são escassos. Ele critica Keynes e a noção de oferta escassa de mão-de-obra – para ele nos países atrasados a oferta é ilimitada. Por conta disso não se considera a produtividade marginal do trabalho e os rendimentos crescentes, ao contrário, pode se aumentar o capital na mesma proporção do trabalho e por isso os rendimentos podem ser crescentes. Fica a questão, então, de como esse excedente será distribuído. Para ele, subdesenvolvida é uma economia híbrida com dois setores. É o primeiro que pensa em um modelo de desenvolvimento.
Rostow (1958) estuda a relação entre a poupança e a decolagem (o take-off); ele diz que os países passam por fases/etapas e seu estudo está em como fazer os países subdesenvolvidos decolarem como fez os desenvolvidos. Os modelos keynesiano e neoclássico são válidos apenas para economias maduras e por isso ele pensa que todas devem passar pelas mesmas etapas – a última fase é a sociedade de consumo de massas. O subdesenvolvimento é sinônimo de tradicional.
Furtado já estuda, no contexto da Cepal, as políticas anticíclicas e diz que elas não são validas para todos os países; o mais importante são políticas monetárias e Estado condizente com essas políticas.
Prebisch destrói a ideia de convergência na teoria das vantagens comparativas e diz que sempre haverá distinções entre centro e periferia.

4.c) Elementos analíticos da TDE

Apesar das divergências de opiniões, há três elementos analíticos centrais da Teoria do Desenvolvimento Econômico: poupança, comércio exterior e externalidades.
O conceito de poupança é igual ao da teoria clássica: um resíduo do consumo que determinará o investimento, como definiu Say. É dentro desta discussão é que é abordada a propensão a consumir, o desejo de consumir como países desenvolvidos e este é um ponto que não há divergências entre muitos teóricos

“já que decorre diretamente da opção teórica de retorno ao pensamento clássico, no qual a velocidade da acumulação, ao contrário do modelo canônico neoclássico, se relaciona diretamente com a capacidade de poupar ou com a parcela do excedente que não é consumida (no caso dos clássicos, especialmente em Ricardo, a parcela do produto depois de descontada aquela destinada ao salário de subsistência e à renda dos proprietários de terra).” 18

Esse tema ainda abre espaço para outros debates. Um deles é sobre a renda da economia, se for muito baixa o país pode ter uma carência de poupança e mesmo que se poupe o valor é baixo demais para as compras de bens de capitais. Um exemplo desse debate está em Furtado que diz que “80% ou mais da população ativa trabalha para satisfazer as necessidades de alimentação ou vestuário da coletividade” (p. 18) Outro teórico, Rostow, analisa a relação entre poupança e decolagem, por exemplo, e a necessidade de romper a barreira de uma popança que corresponda a pelo menos 5% da renda da economia. Outro ponto de debates relacionando a poupança é uma oposição entre consumo e poupança. O principal teórico a discursar sobre esse ponto é Nurkse que expõe o conceito de efeito demonstração.

“Esse debate teve origem nos ‘surpreendentes resultados dos estudos de Kuznets sobre a propensão a poupar no após-guerra, que regutavam empiricamente a hipótese keynesiana de que a propensão a poupar aumentaria com o crescimento da renda da sociedade. O crescimento da renda dos mais pobres não aumentaria sua propensão a poupar, pois estes estariam sob a influência de padrões de consumo mais sofisticados. Em consequência, não se elevaria a propensão a poupar agregada da economia. (...) Nurkse afirma que a tendência quase inevitável de disseminação de padrões mais sofisticados, à medida que ocorresse o processo de desenvolvimento, avabaria por criar problemas de poupança: ‘No plano internacional, o contato com padrões de consumo superiores dá asas à imaginação, criando novas necessidades’” (p. 20)

Paul Singer, na introdução do livro publicado pela Abril Cultural com a obra de Ricardo, faz uma consideração interessante sobre padrões de consumo de países desenvolvidos:

“Em geral, os que pregam o livre-cambismo não consideram o fato de que há grandes diferenças entre os níveis de desenvolvimento das forças produtivas dos diversos países e que os países mais desenvolvidos impõem aos menos desenvolvidos os termos do intercâmbio. Os países mais adiantados exportam novos padrões de consumo aos outros países e dessa maneira criam demanda por seus produtos e, ao memo tempo, estimulam a produção, no resto do mundo, dos artigos que lhe interessam.” (SINGER In: RICARDO, p. XXIV)

A consequência da falta de poupança apontada por Bastos e Brito é “um arrefecimento, ou limitação, do próprio crescimento (...): um bloqueio à industrialização” (21)
Na discussão sobre comércio exterior os teóricos rompem com a teoria ricardiana das Vantagens Comparativas – principalmente Lewis e Prebisch. Estabalecem o conceito de deterioração dos termos de troca que diz que os produtos primários têm uma tendência a terem valores muito menores que os industrializados, além do que os primários também não têm elasticidade-renda, ou seja, não têm aumento de consumo quando há uma aumento na renda. O comércio exterior também aumenta as disparidades entre os países e uma das melhores estratégias é a da substituição das importações, proposta principalmente por Prebisch.
Já na questão das externalidades, há definições distintas e complementares entre os autores estudados, mas são consideradas extremamente importantes para o desenvolvimento. Bastos e Brito mencionam que as externalidades são um dos principais pontos de ruptura da teoria do desenvolvimento; o conceito é uma “pedra fundamental”. Grandes investimentos coordenados de uma só vez, os chamados “big push”, ao contrário dos marginalistas que defendiam gradualismos nessa área, são considerados por esses teóricos. A intervensão do Estado é necessária para se garantir retornos ou lucros sociais maiores que os privados. Rosenstein-Rodan defende esses grandes investimentos coordenados pelo Estado e defende que é preciso existir três indivisibilidades para originarem as economias externas: tanto do lado da oferta, da demanda e da oferta de poupança; são importantes por criar diversidade nos investimentos privados e uma complementaridade do investimento. As indivisibilidades de Rosenstein-Rodan são resumidas da seguinte forma:

“(a) do lado da oferta, indivisibilidades da função de produção, particularmente do capital social; este deve preceder o investimento produtivo, criando necessariamente capacidade ociosa; (b) indivisibilidades da demanda, ligando-se à ideia de que as decisões de investimento são interdependentes, o que oferece risco a um investido individual; nesse ponto, Rosenstein-Rodan cita o exemplo da fábrica de sapatos que não pode gerar sozinha um mercado consumidor; (c) invisibilidades da oferta de poupança.” (p. 26)

 Para Rosenstein-Rodan, mais importante que criar uma única indústria que abrace toda a mão-de-obra vinda do campo é a criação de um sistema de indústria onde os trabalhadores empregados são o seu próprio mercado – uma visão totalmente clássica da Lei de Say de que a produção gera a própria demanda.
Nurkse já fala sobre a coordenação de investimentos para gerar demanda interna suficiente para se deslanchar um processo agregado de investimentos.
Um ponto de vista diferente dos dois autores já abordados é o de Hirshman e o conceito de desenvolvimento desequilibrado.

“Para ele, (...) o processo de desenvolvimento consiste em criar deliberadamente desequilíbrios que amplifiquem as externalidades criadas por projetos de investimento complementares, as quais ele chama de poder indutor do investimento. O autor propõe que os encadeamentos setoriais, para a frente e para trás, devem ser considerados na escolha criteriosa da sequência dos investimentos em países subdesenvolvidos” (p. 29)



4.1)
4.1.1) Rosenstein-Rodan

Para Rosenstein-Rodan a economia externa tem ligação com indivisibilidade, ideia oposta aos conceitos marginalistas. Os investimentos não são divisíveis e deve-se pensar em todas as economias que ele irá criar: “Se criarmos uma unidade de investimento suficientemente grande, incluindo todas as novas indústrias da região, as economias externas se converterão em lucros internos” (p. 270)
Tipos de economia externa:
1a)      Marshaliana, que reduz custos, quando todas as empresas se beneficiam como um todo com essa redução de custos inicial;
2b)      Economias externas de mercado, definida por Young em 1929, são divididas em horizontais e verticais. Horizontais por influenciaram a criação de novas empresas no mercado, geralmente de bens complementares – o exemplo clássico é a fábrica de sapatos que incentiva a criação de fábricas de meias, calças e etc. E as verticais estão relacionadas á cadeia produtiva de um bem – beneficiamento de couro, propaganda dos sapatos e etc;
3c)      Economia externa de encadeamento na qual uma inovação engendra outra inovação. O desequilíbrio caracteriza o processo de desenvolvimento – ideia defendida por Hirshman.

Rodan fala das suas indivisibilidades, (de oferta, de demanda e de poupança), conceito que se opõe aos marginalistas, pois esse autor desenvolvimentista acredita que os investimentos não são divisíveis e devem ser pensados de uma só vez – inclusive a poupança. O projeto de desenvolvimento deve pensar o conjunto e ser feito todo ao mesmo tempo e controlado pelo Estado. Essa será uma forma de garantir que o lucro social seja maior que o privado. Essa é uma característica fundamental do desenvolvimento equilibrado.
O truste (na forma de um conselho de planejamento) é uma forma de pensar o desenvolvimento para o Leste e Sudeste Europeus (objeto de sua teoria). Ela é uma instituição formada por burocratas responsável pelo desenvolvimento do país atrasado. O Estado é o principal agente dessa organização. Como suas palavras são uma teoria, o truste seria o ideal, mas nunca existiu e é apenas uma expressão de uma coordenação entre Estados.
Para o desenvolvimento equilibrado pensa-se as economias externas horizontais e verticais. O Estado precisa coordenar esses investimentos para assegurar que haja equilíbrio para haver empresas que se beneficiam do lucro de outras empresas tanto por meio da criação de novos mercados (economia horizontal) quanto com os encadeamentos (vertical).
O processo de passagem de uma sociedade atrasada para uma desenvolvida é o desenvolvimento equilibrado. Consenso geral entre os autores desenvolvimentista é a importância da industrialização para a superação do atraso.
País atrasado é associado com agrário para Rodan, além de ter uma oferta estrutural de mão de obra para desenvolver ou tirar o povo do campo ou levar capital para a população. Em seu texto ele analisa duas formas de se fazer a industrialização: (a) a primeira é com uma economia fechada, nos moldes russos – “objetivando a autossuficiência e em investimento internacional” (Rodan, p. 266) – e a outra (b) é o modelo aberto, um ajustamento à economia mundial. Em uma forma fechada tem-se um Estado arcando com a industrialização, mas a questão é como gerar capital para bancar essa indústria. É preciso aumentar a poupança e o maior sacrifício é em relação ao consumo, que deve ser mantido o mesmo e ser taxado para gerar esse capital.
As desvantagens dessa forma fechada é que a economia cresce lentamente, os impactos da divisão internacional do trabalho não são sentidos e essa economia perde oportunidades de se especializar adotando a ideia de Smith e não a de Ricardo e das vantagens comparativas. Há também desperdícios de recursos e as indústrias de base trabalhariam com uma capacidade ociosa muito grande ao não poder se relacionar com o exterior para vender seu produtos e compensar essa ociosidade. Outro ponto negativo colocado por Rodan é o de que um modelo fechado cria uma “unidade independente na economia mundial, implicando redução da divisão internacional do trabalho – isto é, a produção do mundo como um todo seria menor do que poderia ser, e o mundo estaria mais pobre em termos de bens materiais” (Rodan, p. 266)
Já na forma aberta, os investimentos encontram caminho pelo crédito organizado pelo Estado. O dinheiro desse crédito vem de investidores internacionais e permite-se o contato com a divisão internacional do trabalho. Diferente do modelo fechado, não haveria desperdício de recursos permitindo a importação de máquinas e insumos. Na verdade não há desvantagens no modelo aberto. Uma primeira vantagem seria um progresso mais rápido, outra é a oportunidade de essa economia ser suprida por indústrias pesadas de outros países num caso de expansão da economia mundial. [Isso não é indiretamente parecido com a teoria ricardiana?]
Em relação ao século XIX, há algumas características adicionais que ajudam os países subdesenvolvidos:
a)      Liquidação do investimento: “o investimento internacional no século XIX era, em grande parte, liquidado automaticamente, pois era baseado na troca de produtos agrícolas e industriais. Atualmente, já não é mais possível esperar que essa liquidação seja ‘automática’” (p. 267);
b)      Investimentos eram pontuais (o capital se dirige geralmente para empresas isoladas), deve-se pensar na interdependência e complementaridade dos investimentos o que não ocorreu no passado;
c)      As técnicas já é dada, enquanto no século XIX havia grande concorrência pela tecnologia e “o progresso técnico foi a principal força propulsora no século XIX” (p. 267);
d)     Escalas e tamanho médio das empresas era menor: “o aumento dos custos fixos e das inversões de capital desde o século XIX tem ampliado o risco de perda do capital e diminuído a mobilidade dos recursos e a flexibilidade do sistema econômico” (267)
e)      Riscos políticos em relação ao crédito eram menores antigamente e no século XX o Estado precisou garantir a credibilidade dos países para receber investimentos;
f)       Miséria: as pessoas não aceitam mais viver em condições miseráveis.

Os países subdesenvolvidos precisam contar também com mudanças institucionais e Rodan propõe argumentos positivos para a criação de um truste industrial para a realização da coordenação dos investimentos e mudanças na economia. A educação ou treinamento da mão de obra é um ponto citado por Rodan. Segundo ele pode não ser interessante para um empresário investir em um operário por conta do risco de ele perder esse investimento caso o funcionário mude de empresa. Por conta disso essa educação deve ser dada pelo Estado ou pelo truste que ele propõe que tem condições de arcar com gastos altos relacionado ao treinamento de vários funcionários e as perdas micro seriam mínimas e suportáveis.
Outro ponto defendido pelo autor é a “complementação das diferentes indústrias”. A ideia é de investimentos em indústrias complementares:

“As indústrias que produziriam o grosso dos bens a serem adquiridos com salários poderiam ser chamadas, portanto, de complementares. A criação planejada de um sistema de indústrias complementares desse tipo reduziria o risco de insuficiência da procura e, como o risco pode ser considerado um curso, reduziria os custos.” ( 269)

Aliado a esse ponto, Rodan considera que é facilmente previsível quais serão os bens que os trabalhadores tirados do campo irão consumir quando virarem assalariados da indústria.
Um contraponto claro à teoria de Keynes é feita por Rodan quando ele consideram que as decisões de investimento dos empresários de uma economia subdesenvolvida não podem ser feitos com base nas experiências do passado. Os conhecimentos do empresário individual são muito limitados, por conta disso cabe ao truste de empresas, que tem dados suficientes, determinar quais são os investimentos.

4.1.2) Nurkse
A problemática para Nukse é a formação de capital nos países subdesenvolvidos. Na sua primeira conferência ele mostra os empecilhos para o desenvolvimento e mostra que um dos problemas é o tamanho do mercado. Já na terceira conferência, que continua abordando questões internas do país, Nurkse vai falar sobre como formar o capital.
No geral o atraso para esse autor está relacionado com o problemas de formação de capital. Rodan defendia um desenvolvimento equilibrado e identificava o subdesenvolvimento com a oferta estrutural de mão de obra. Para Rodan, há dois caminhos para o desenvolvimento: o baseado numa economia fechada e outro numa aberta. Seu desenvolvimento é equilibrado e está embasado nas economias externas e nos investimentos indivisíveis. Para Nurkse o desenvolvimento também deve ser equilibrado.
Na conferência de Nurkse, as pessoas de economias atrasadas vivem muito próximas da subsistência, o que não permite resíduos do consumo para a formação de poupança; Há duas considerações sobre a formação de capital: em países populosos e em países esparsamente populosos – cada um deles requer uma estratégia diferente.
Para Nurkse a questão do desenvolvimento não depende do desenvolvimento tecnológico. Ele pensa em bens materiais: máquinas e ferramentas usadas na produção junto do método de forma organizada – é então uma produção organizada. Uma mudança tecnológica para ele é a mudança de instrumentos diferentes e mais modernos para se dispender menos trabalho.
Quando Nurkse critica o tamanho dos mercados, ele se refere à renda dessa economia ligada aos salários e à produtividade. O que determina um mercado pequeno e estreito é a baixa produtividade. Os ciclos viciosos de Nurkse estão relacionados com o problema de oferta de capital (da pobreza) e da demanda de capital (da estagnação). Os dois ciclos se encontram na baixa produtividade. Com pouca produção há pouco excedente e baixos salários; pouca poupança e mercado estreito e pequeno refletem baixa formação de capital e pobreza.
 O problema principal é o pouco capital para muita população. Os países subdesenvolvidos são estagnados e pobres. Aumentaria-se a renda pelo aumento da produtividade, porém há o problema de oferta de capitais por conta do consumo muito alto e pouca formação de capital – pouca poupança seguindo a lógica clássica.
A teoria do desenvolvimento tem de se preocupar em como irá romper esses ciclos viciosos resolvendo o problema da formação de capital e consequentemente o da baixa produtividade para a superação do atraso. O aumento da produtividade pode acontecer quando se realiza um conjunto de investimentos, assim como propôs Rodan.
Ao falar sobre políticas públicas, Nurkse ressalta que deve ser feito a tributação pelo consumo.
Em países populosos é preciso investir na técnica: remover parte da população do campo para produção de bens de produção num segundo setor usando técnicas já dadas. Já nos países esparsamente populosos, é preciso desenvolvimento tecnológico a fim de diminuir o trabalho no campo que concentra a mão de obra e liberar trabalhadores para a formação do segundo setor, de bens de capital. Os trabalhos desse segundo setor são simples num primeiro momento, consiste na produção de instrumentos básicos para a produção agrícola, por exemplo pás e enxadas.

4.1.3) Albert Hirshman

Nascido em 1915 é o autor de “Estratégias de desenvolvimento econômico”, publicado em 1958. Para ele não há escassez de nenhum fator, mas há problemas de investimento nestes países subdesenvolvidos – as decisões de investimento envolvem outras questões como racionalidades ocultas que não são presentes nas economias desenvolvidas. Hirshman é o primeiro autor que volta a pensar a variável Investimento como a central, mas não com as mesmas considerações feitas por Keynes. Hirshman se opõe ao desenvolvimento equilibrado. Para ele essa estratégia de desenvolvimento pensa as economias externas e desconsideram as deseconomias externas.
Seu conceito central é a ideia de encadeamentos. Há uma relação entre infraestrutura e estruturas produtivas. Esses encadeamentos podem ser para traz ou para frente. Cada país precisa perceber quais setores precisa investir e desencadear esses encadeamentos.
O subdesenvolvimento não está na escassez de fatores, mas na má organização desses fatores. A superação do atraso está em solucionar os problemas com as racionalidades ocultas específicas de cada país. Outro problema é a ausência de decisões de investimentos. Muito influenciado por Schumpeter, ele pensa que é a classe capitalista que levará o desenvolvimento a cabo e o investimento privado deve ser central nessa economia.
A dificuldade em se tomar decisões de investimento está em descobrir quais são as reais necessidades dessas economias para propiciar esses investimentos. Ou seja, deve-se descobrir quais são as racionalidades ocultas desse país.
Como nos outros autores, o desenvolvimento está ligado à industrialização. A diferença é que o desenvolvimento deve ser desequilibrado porque é pelos desequilíbrios que surgem e são descobertas novas racionalidades pelas classes investidoreas.
O desemprego disfarçado também é considerado por Hirshman. Nem sempre se consegue empregar toda a mão de obra e a economia continua com setores arcaicos e modernos convivendo juntos.
O papel do Estado é investir em áreas em que a produtividade marginal do trabalho seja atrasada, como nos setores de infreaestrutura (transporte, energia e indústria de base).
Hirshman propõe uma teoria do desenvolvimento. Ele leva em conta o problema das racionalidades ocultas, as especificações de cada país e as instituições neste processo e também a forma como esse desenvolvimento será feito, ou os meios para se chegar ao desenvolvimento. Há contradições entre os meios e o fim. Exemplo disso é a diminuição do consumo num promeiro momento; outro seria a definição de uma carga horária que ainda não existe nestes países; a terceira contradição é a distribuição desigvual da renda para só posteriormetne ter uma distribuição mais igual. Todos estes postulados colocados pelos teóricos da teoria do desenvolvimento não são adequados para Hirshman porque os meios podem ser desvirtuados antes de se chegar no fim.
Quando Hirshman discorre sobre a teoria do desenvolvimento mais adequada para cada país, ele dialoga e discorda com as teorias do crescimento encabeçadas por Harrod Domar e principalmente por Keynes. O primeiro teórico dizia que aumentar capital gera aumentos automáticos do produto e da produtividade. Hirshman ressalva que antes do capital há barreiras a serem superadas e que o aumento do capital não terá aumento do produto numa taxa proporcional.
Outro ponto discutido neste diálogo é a formação e a definição da poupança. A poupança é um determinante do investimento, mas pode fazer parte de uma das racionalidades dessa economia. Pode acontecer de um aumento da renda não refletir num aumento da poupança. Entre a renda e a poupança pode haver um consumo conspícuo como uma racionalidade a ser superada. A formação de poupança também tem de superar obstáculos de investimento.
Há dois tipos de investimentos completivos ou comentares: (a) o induzido que multiplica a renda e gera mais investimentos; e o (b) adicional que geram inovações.
Para Hirshman não há uma parte ou setor mais importante para se iniciar um novo investimento. A sequência mais desequilibradora e capaz de gerar mais investimentos induzidos e adicionais é a melhor para a superação do atraso.




4.1.4)Perroux
Perroux, em seu texto de 1955, se aproxima de Hirshman, mas com foco em manifestações regionais.
O primeiro conceito que ele lança é o de polo de crescimento, que representam concentrações de indústrias. Esses polos começam a se concentrar a partir de uma indústria motriz. O problema desses países é o fato de não conseguir comunicação entre os polos de crescimento.
A importância dessas indústrias motrizes é que elas servem como motores e o encadeador da economia. Além disso ela consegue engendrar um complexo industrial ou polo industrial ao desenvolver as demais indústrias que surgem nesse polo. Hirshman observou que a melhor indústria encadeadora na Europa era a de aço, mas essa não é uma regra para todos os países e cada economia deve encontrar a sua por conta de suas particularidades.
Os estudos de desenvolvimento têm uma forte formulação empirística. Assim, o nascimento da sua ideia de polo de crescimento foi a partir da observação de polos de tipos urbanos em París desenvolvidos ao redor do mercado consumidor; ou polo observado por Perroux foi o do vale do Ruhr, por conta da matéria-prima e da redução dos custos de beneficiamento desses materiais ao estarem próximos da fonte. De maneira geral, os polos são instalados nos lugares onde os cursos são reduzidos e são historicamente determinados.
Em países subdesenvolvidos os polos mais ricos tendem a se concentrar enquanto os pobres continuam sem comunicação e continuam pobres. Dessa forma, subdesenvolvimento para Perroux é a característica de um países ter polos de crescimento sem comunicação com os outros ou então países que não possuem indústrias motrizes.
Para o autor, a ideia de fluxo circular de Schumpeter e o equilíbrio neoclássico não existe nas economias subdesenvolvidas. Não há livre concorrência, os polos são constituídos sob bases monopolísticas, por isso ele é contra o desenvolvimento equilibrado.
Perroux se aproxima de Hirshman e diz que as indústrias motrizes geram outras indústrias, mas não adere à ideia de outros teóricos do desenvolvimento que dizem que é preciso fazer um investimento planejado que considere todas as economias externas possíveis.
O Estado é um coordenador e aparece tanto do ponto de vista taxador quanto controlador dos investimentos. Os polos vão se desenvolvendo até chegar a um ponto de ser a grande força nacional e pode ser manipulado pelo Estado para competir com outros estados. Esse é um fim errado e por isso é preciso cuidado do Estado para evitar esse mal uso.
A indústria motriz tem grande participação no produto nacional e com o passar o tempo consegue aumentar as vendas das outras indústrias de forma que a venda delas supere a sua própria. O crescimento da indústria se difunde para outras indústrias, sempre há o surgimento, o aparecimento e o beneficiamento das outras indústrias; As economias externas consideradas podem ser os de mudança de custos, investimentos induzidos ou adicionais.
Desenvolvimento é sempre desequilibrado nos aspectos regionais.
Aspectos do desenvolvimento envolvem: a) a indústria motriz em si e o complexo industrial e b) a forma como essa indpustria se relaciona com a economia nacional. É a partir da indístria motriz que se gera desenvolvimento.
Características das indústrias motrizes: i) moderna, que cria modelos precoces de produção e organização; ii) sua taxa média de produto é maior que o produto nacional; iii) seu elevado crescimento passa por um declínio e é marcada por uma fase de estagnação quando o mercado já está suprido com sua produção.

A indústria motriz contribui ao longo do tempo para que as taxas de lucro das empresas de seu complexo sejam maiores que as suas. As hipóteses de equilíbrio geral não são aplicadas à indústria motriz; não há ideia de maximização de lucros – o lucro de uma firma não é em função de sua própria maximização de lucro, ela é influenciada por outras empresas, sendo assim as decisões de lucros estão relacionadas à todas as expectativas das outras indústrias do mesmo polo; decisões de investimento são tomadas por grupos organizacionais; quanto ao preço, a demanda da população não causa interferência pois essas empresas observam a demanda e as taxas de lucro das outras empresas de seu polo.
A criação de uma indústria motriz cria expectativas para outras indústrias e faz gerar novas capacidades produtivas. Essas indústrias influenciam a economia nacional por meio de suas inovações, como por exemplo pela substituição de tecnologias por outras mais eficazes, tanto por substituição de capitais, mão de obra mais especializada e etc. Essas substituições levam a economia a um novo patarmar em termos de tecnologia.

Por ser uma indústria motriz, sua capacidade de produção é exponencial.

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