quinta-feira, 30 de maio de 2013

Anotações das aulas de Desenvolvimento Sócio-econômico: A teoria do subdesenvolvimento - revisão

4.a) Origem da teoria e seus determinantes

A teoria do subdesenvolvimento surge no pós-1945 e toma força na década de 1950 marcando um retorno à problemática da economia política clássica. Os neocássicos discutiram teorias da produção e teorias do consumo; os indivíduos para eles são maximizadores de lucros; trabalha com a escassez de bens e fatores; usam a ciência para uma distribuição ótima desses bens escassos.
Para Keynes o investimento é a variável central. Ele considera o efeito multiplicador do investimento, a poupança como sendo ex-post; para o investimento há o mercado de crédito – portanto ele não depende da poupança; e há inflação próximo do pleno emprego.
Já na teoria do subdesenvolvimento a variável central é o consumo. O efeito multiplicador não e aplica e essas economias atrasadas não têm mercado de crédito, por isso a poupança é importante para determinar o investimento. Como a mão de obra é abundante e desorganizada, não há inflação.  Pontos que marcam um resgate da economia clássica pelos teóricos do desenvolvimento:

“A escola clássica de pensamento econômico, que se seguiu aos mercantilistas, tinha, segundo Marx, um elemento analítico unificador: o conceito de excedente, fundamental para se determinarem variáveis econômicas como distribuição de renda, preços relativos e acumulação de capital. (...) Assim, no componente analítico central da escola clássica fica explícita a preocupação com a questão do desenvolvimento das forças produtivas e sua ligação direta com a teoria da distribuição dos preços” (8-9)

O Estado volta à discussão com um papel fundamental. Na Rússia os planos quinquenais mostram que é importante o planejamento econômico; a crise de 1929 também ressalta a importância de políticas de estabilização fiscal e monetária.
No pós-guerra o papel central do Estado também é reforçado pela influência da União Soviética com as revoluções socialistas e os investimentos feitos no exterior – pontos que alertam os Estados Unidos. Além disso esse período é marcado por uma descolonização da África e da Ásia e os seus futuros posicionamentos políticos também chama a atenção do mundo bipolar. O Estado também é chamado para investir na reconstrução da Europa e na coordenação dessas aplicações. Ademais, o pós-guerra reforça as diferenças entre os países industrializados e os agrícolas. Esses pontos são explorados por Bastos & Brito (2010):

“A crise do entre guerras e a própria organização da vida econômica nos diversos países enfraqueceram o dogma liberal do século XIX” (p. 8)

“Um primeiro elemento central foi o próprio fim da era liberal, sob a égide da Inglaterra do século XIX, após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ou, para usar o título de um texto clássico de Keynes, ‘o fim do laissez-faire’. (...) Na década de 1930 rompe-se definitivamente o padrão de comércio internacional que, supostamente, estava na base da ordem liberal. Surge, então, uma estrutura de comércio autárquica, marcada pelo nascimento de blocos de países, e a ideia de um Estado mínimo é substituída pela de um Estado ativo e interventor, com o abandono paulatino da obsessão por ‘finanças saudáveis’, ou seja, equilíbrio orçamentário.” (p. 10)

“Outro fator ocorrido no entre guerras, que teve forte influência sobre o ambiente intelectual do após-guerra, foi o padrão de intervenção e planejamento econômico da ex-União Soviética. (...) A ruptura do padrão de intervenção pública na economia se aprofundou durante a Segunda Guerra Mundial. As economias nacionais passaram a funcionar em situação de esforço de guerra, com alto grau de intervencionismo, conferindo ao planejamento um caráter científico e sistemático. Na política econômica, tais experiências consolidam a revolução keynesiana. (...) A obra de Keynes era interpretada, corretamente, como centrada em questões de curto prazo, ou nas flutuações econômicas, e não no desenvolvimento. Mesmo se fosse estendida para o longo prazo não daria conta das questões relevantes para os países subdesenvolvidos.” (10-11)

“O movimento de descolonização, ocorrido na Ásia e na África, foi outro elemento de grande importância geopolítica na criação de um clima favorável a teorias políticas de desenvolvimento econômico. O surgimento das novas nações tornou necessárias políticas específicas para elas. (...) os Estados Unidos, para concorrer ideológica e politicamente com a União Soviética, se veem quase compelidos a estimular a elevação do padrão de vida dos países a fim de afastá-los da ‘tentação’ socialista (estratégia Truman com o Plano Marshal; Programa Ponto IV)” (11)

“Finalmente, embora não explicitamente, um elemento crucial que está por trás  da agenda desenvolvimentista do período e a questão da convergência. Observando o crescimento da economia de uma perspectiva de longo prazo, pode-se observar que o padrão do crescimento da renda per capita se altera a partir da expansão do capitalismo. (...) Esse crescimento ‘intensivo’ foi desigual, pois o crescimento de países e mesmo regiões mundiais ocorreu em velocidades muito distintas, produzindo um distanciamento nas respectivas rendas per capitas (divergências regionais)” (12)

“Outro argumento, proposto por Prebisch (1949), (...) também reforçava a ideia de que o livre comércio internacional dificilmente poderia exercer uma força propulsora na economia internacional. (Ele cita o caso da economia dos Estados Unidos que não estimulou arranjos dinâmicos e complementares no comércio exterior)” 13

4.b) Conceitos de subdesenvolvimento

Os conceitos de subdesenvolvimento para os teóricos do desenvolvimento são distintos. Bastos e Brito, citam como exemplo Myint que considera as comparações com padrões de consumo externos como influência para a definição de economia atrasada; Lewis que admite uma heterogeneidade industrial entre o setor moderno mais capitalizado e um dominado pela produção para subsistência, com baixa produtividade e excedente estrutural de mão-de-obra; e Kuznets que considera que “a tensão nos países subdesenvolvidos é gerada pelo conhecimento do sucesso em outras partes do mundo” (p. 17).
Outro conceito de subdesenvolvimento apresentado por Bastos e Brito é o de Nurkse:

“O subdesenvolvimento caracteriza-se por dois círculos viciosos. Por um lado, nos países atrasados a baixa renda deve-se à baixa produtividade, determinada pela escassez de capital. Esta, por sua vez, eplica-se pela baixa capacidade de investir, derivada da baixa poupança, decorrente do baixo nível de renda, ou seja, da limitada dimensão do mercado. Contudo, o tamanho do mercado depende crucialmente da produtividade, que é função do uso de capital, que é determinado, no nível do empresário individual, pelo tamanho do mercado.” (27)

Nurkse e Rosenstein-Rodan identificam o subdesenvolvimento com economias ainda agrárias.
Lewis (1956) analisa o excedente e quebra o postulado neoclássico que diz que os bens são escassos. Ele critica Keynes e a noção de oferta escassa de mão-de-obra – para ele nos países atrasados a oferta é ilimitada. Por conta disso não se considera a produtividade marginal do trabalho e os rendimentos crescentes, ao contrário, pode se aumentar o capital na mesma proporção do trabalho e por isso os rendimentos podem ser crescentes. Fica a questão, então, de como esse excedente será distribuído. Para ele, subdesenvolvida é uma economia híbrida com dois setores. É o primeiro que pensa em um modelo de desenvolvimento.
Rostow (1958) estuda a relação entre a poupança e a decolagem (o take-off); ele diz que os países passam por fases/etapas e seu estudo está em como fazer os países subdesenvolvidos decolarem como fez os desenvolvidos. Os modelos keynesiano e neoclássico são válidos apenas para economias maduras e por isso ele pensa que todas devem passar pelas mesmas etapas – a última fase é a sociedade de consumo de massas. O subdesenvolvimento é sinônimo de tradicional.
Furtado já estuda, no contexto da Cepal, as políticas anticíclicas e diz que elas não são validas para todos os países; o mais importante são políticas monetárias e Estado condizente com essas políticas.
Prebisch destrói a ideia de convergência na teoria das vantagens comparativas e diz que sempre haverá distinções entre centro e periferia.

4.c) Elementos analíticos da TDE

Apesar das divergências de opiniões, há três elementos analíticos centrais da Teoria do Desenvolvimento Econômico: poupança, comércio exterior e externalidades.
O conceito de poupança é igual ao da teoria clássica: um resíduo do consumo que determinará o investimento, como definiu Say. É dentro desta discussão é que é abordada a propensão a consumir, o desejo de consumir como países desenvolvidos e este é um ponto que não há divergências entre muitos teóricos

“já que decorre diretamente da opção teórica de retorno ao pensamento clássico, no qual a velocidade da acumulação, ao contrário do modelo canônico neoclássico, se relaciona diretamente com a capacidade de poupar ou com a parcela do excedente que não é consumida (no caso dos clássicos, especialmente em Ricardo, a parcela do produto depois de descontada aquela destinada ao salário de subsistência e à renda dos proprietários de terra).” 18

Esse tema ainda abre espaço para outros debates. Um deles é sobre a renda da economia, se for muito baixa o país pode ter uma carência de poupança e mesmo que se poupe o valor é baixo demais para as compras de bens de capitais. Um exemplo desse debate está em Furtado que diz que “80% ou mais da população ativa trabalha para satisfazer as necessidades de alimentação ou vestuário da coletividade” (p. 18) Outro teórico, Rostow, analisa a relação entre poupança e decolagem, por exemplo, e a necessidade de romper a barreira de uma popança que corresponda a pelo menos 5% da renda da economia. Outro ponto de debates relacionando a poupança é uma oposição entre consumo e poupança. O principal teórico a discursar sobre esse ponto é Nurkse que expõe o conceito de efeito demonstração.

“Esse debate teve origem nos ‘surpreendentes resultados dos estudos de Kuznets sobre a propensão a poupar no após-guerra, que regutavam empiricamente a hipótese keynesiana de que a propensão a poupar aumentaria com o crescimento da renda da sociedade. O crescimento da renda dos mais pobres não aumentaria sua propensão a poupar, pois estes estariam sob a influência de padrões de consumo mais sofisticados. Em consequência, não se elevaria a propensão a poupar agregada da economia. (...) Nurkse afirma que a tendência quase inevitável de disseminação de padrões mais sofisticados, à medida que ocorresse o processo de desenvolvimento, avabaria por criar problemas de poupança: ‘No plano internacional, o contato com padrões de consumo superiores dá asas à imaginação, criando novas necessidades’” (p. 20)

Paul Singer, na introdução do livro publicado pela Abril Cultural com a obra de Ricardo, faz uma consideração interessante sobre padrões de consumo de países desenvolvidos:

“Em geral, os que pregam o livre-cambismo não consideram o fato de que há grandes diferenças entre os níveis de desenvolvimento das forças produtivas dos diversos países e que os países mais desenvolvidos impõem aos menos desenvolvidos os termos do intercâmbio. Os países mais adiantados exportam novos padrões de consumo aos outros países e dessa maneira criam demanda por seus produtos e, ao memo tempo, estimulam a produção, no resto do mundo, dos artigos que lhe interessam.” (SINGER In: RICARDO, p. XXIV)

A consequência da falta de poupança apontada por Bastos e Brito é “um arrefecimento, ou limitação, do próprio crescimento (...): um bloqueio à industrialização” (21)
Na discussão sobre comércio exterior os teóricos rompem com a teoria ricardiana das Vantagens Comparativas – principalmente Lewis e Prebisch. Estabalecem o conceito de deterioração dos termos de troca que diz que os produtos primários têm uma tendência a terem valores muito menores que os industrializados, além do que os primários também não têm elasticidade-renda, ou seja, não têm aumento de consumo quando há uma aumento na renda. O comércio exterior também aumenta as disparidades entre os países e uma das melhores estratégias é a da substituição das importações, proposta principalmente por Prebisch.
Já na questão das externalidades, há definições distintas e complementares entre os autores estudados, mas são consideradas extremamente importantes para o desenvolvimento. Bastos e Brito mencionam que as externalidades são um dos principais pontos de ruptura da teoria do desenvolvimento; o conceito é uma “pedra fundamental”. Grandes investimentos coordenados de uma só vez, os chamados “big push”, ao contrário dos marginalistas que defendiam gradualismos nessa área, são considerados por esses teóricos. A intervensão do Estado é necessária para se garantir retornos ou lucros sociais maiores que os privados. Rosenstein-Rodan defende esses grandes investimentos coordenados pelo Estado e defende que é preciso existir três indivisibilidades para originarem as economias externas: tanto do lado da oferta, da demanda e da oferta de poupança; são importantes por criar diversidade nos investimentos privados e uma complementaridade do investimento. As indivisibilidades de Rosenstein-Rodan são resumidas da seguinte forma:

“(a) do lado da oferta, indivisibilidades da função de produção, particularmente do capital social; este deve preceder o investimento produtivo, criando necessariamente capacidade ociosa; (b) indivisibilidades da demanda, ligando-se à ideia de que as decisões de investimento são interdependentes, o que oferece risco a um investido individual; nesse ponto, Rosenstein-Rodan cita o exemplo da fábrica de sapatos que não pode gerar sozinha um mercado consumidor; (c) invisibilidades da oferta de poupança.” (p. 26)

 Para Rosenstein-Rodan, mais importante que criar uma única indústria que abrace toda a mão-de-obra vinda do campo é a criação de um sistema de indústria onde os trabalhadores empregados são o seu próprio mercado – uma visão totalmente clássica da Lei de Say de que a produção gera a própria demanda.
Nurkse já fala sobre a coordenação de investimentos para gerar demanda interna suficiente para se deslanchar um processo agregado de investimentos.
Um ponto de vista diferente dos dois autores já abordados é o de Hirshman e o conceito de desenvolvimento desequilibrado.

“Para ele, (...) o processo de desenvolvimento consiste em criar deliberadamente desequilíbrios que amplifiquem as externalidades criadas por projetos de investimento complementares, as quais ele chama de poder indutor do investimento. O autor propõe que os encadeamentos setoriais, para a frente e para trás, devem ser considerados na escolha criteriosa da sequência dos investimentos em países subdesenvolvidos” (p. 29)



4.1)
4.1.1) Rosenstein-Rodan

Para Rosenstein-Rodan a economia externa tem ligação com indivisibilidade, ideia oposta aos conceitos marginalistas. Os investimentos não são divisíveis e deve-se pensar em todas as economias que ele irá criar: “Se criarmos uma unidade de investimento suficientemente grande, incluindo todas as novas indústrias da região, as economias externas se converterão em lucros internos” (p. 270)
Tipos de economia externa:
1a)      Marshaliana, que reduz custos, quando todas as empresas se beneficiam como um todo com essa redução de custos inicial;
2b)      Economias externas de mercado, definida por Young em 1929, são divididas em horizontais e verticais. Horizontais por influenciaram a criação de novas empresas no mercado, geralmente de bens complementares – o exemplo clássico é a fábrica de sapatos que incentiva a criação de fábricas de meias, calças e etc. E as verticais estão relacionadas á cadeia produtiva de um bem – beneficiamento de couro, propaganda dos sapatos e etc;
3c)      Economia externa de encadeamento na qual uma inovação engendra outra inovação. O desequilíbrio caracteriza o processo de desenvolvimento – ideia defendida por Hirshman.

Rodan fala das suas indivisibilidades, (de oferta, de demanda e de poupança), conceito que se opõe aos marginalistas, pois esse autor desenvolvimentista acredita que os investimentos não são divisíveis e devem ser pensados de uma só vez – inclusive a poupança. O projeto de desenvolvimento deve pensar o conjunto e ser feito todo ao mesmo tempo e controlado pelo Estado. Essa será uma forma de garantir que o lucro social seja maior que o privado. Essa é uma característica fundamental do desenvolvimento equilibrado.
O truste (na forma de um conselho de planejamento) é uma forma de pensar o desenvolvimento para o Leste e Sudeste Europeus (objeto de sua teoria). Ela é uma instituição formada por burocratas responsável pelo desenvolvimento do país atrasado. O Estado é o principal agente dessa organização. Como suas palavras são uma teoria, o truste seria o ideal, mas nunca existiu e é apenas uma expressão de uma coordenação entre Estados.
Para o desenvolvimento equilibrado pensa-se as economias externas horizontais e verticais. O Estado precisa coordenar esses investimentos para assegurar que haja equilíbrio para haver empresas que se beneficiam do lucro de outras empresas tanto por meio da criação de novos mercados (economia horizontal) quanto com os encadeamentos (vertical).
O processo de passagem de uma sociedade atrasada para uma desenvolvida é o desenvolvimento equilibrado. Consenso geral entre os autores desenvolvimentista é a importância da industrialização para a superação do atraso.
País atrasado é associado com agrário para Rodan, além de ter uma oferta estrutural de mão de obra para desenvolver ou tirar o povo do campo ou levar capital para a população. Em seu texto ele analisa duas formas de se fazer a industrialização: (a) a primeira é com uma economia fechada, nos moldes russos – “objetivando a autossuficiência e em investimento internacional” (Rodan, p. 266) – e a outra (b) é o modelo aberto, um ajustamento à economia mundial. Em uma forma fechada tem-se um Estado arcando com a industrialização, mas a questão é como gerar capital para bancar essa indústria. É preciso aumentar a poupança e o maior sacrifício é em relação ao consumo, que deve ser mantido o mesmo e ser taxado para gerar esse capital.
As desvantagens dessa forma fechada é que a economia cresce lentamente, os impactos da divisão internacional do trabalho não são sentidos e essa economia perde oportunidades de se especializar adotando a ideia de Smith e não a de Ricardo e das vantagens comparativas. Há também desperdícios de recursos e as indústrias de base trabalhariam com uma capacidade ociosa muito grande ao não poder se relacionar com o exterior para vender seu produtos e compensar essa ociosidade. Outro ponto negativo colocado por Rodan é o de que um modelo fechado cria uma “unidade independente na economia mundial, implicando redução da divisão internacional do trabalho – isto é, a produção do mundo como um todo seria menor do que poderia ser, e o mundo estaria mais pobre em termos de bens materiais” (Rodan, p. 266)
Já na forma aberta, os investimentos encontram caminho pelo crédito organizado pelo Estado. O dinheiro desse crédito vem de investidores internacionais e permite-se o contato com a divisão internacional do trabalho. Diferente do modelo fechado, não haveria desperdício de recursos permitindo a importação de máquinas e insumos. Na verdade não há desvantagens no modelo aberto. Uma primeira vantagem seria um progresso mais rápido, outra é a oportunidade de essa economia ser suprida por indústrias pesadas de outros países num caso de expansão da economia mundial. [Isso não é indiretamente parecido com a teoria ricardiana?]
Em relação ao século XIX, há algumas características adicionais que ajudam os países subdesenvolvidos:
a)      Liquidação do investimento: “o investimento internacional no século XIX era, em grande parte, liquidado automaticamente, pois era baseado na troca de produtos agrícolas e industriais. Atualmente, já não é mais possível esperar que essa liquidação seja ‘automática’” (p. 267);
b)      Investimentos eram pontuais (o capital se dirige geralmente para empresas isoladas), deve-se pensar na interdependência e complementaridade dos investimentos o que não ocorreu no passado;
c)      As técnicas já é dada, enquanto no século XIX havia grande concorrência pela tecnologia e “o progresso técnico foi a principal força propulsora no século XIX” (p. 267);
d)     Escalas e tamanho médio das empresas era menor: “o aumento dos custos fixos e das inversões de capital desde o século XIX tem ampliado o risco de perda do capital e diminuído a mobilidade dos recursos e a flexibilidade do sistema econômico” (267)
e)      Riscos políticos em relação ao crédito eram menores antigamente e no século XX o Estado precisou garantir a credibilidade dos países para receber investimentos;
f)       Miséria: as pessoas não aceitam mais viver em condições miseráveis.

Os países subdesenvolvidos precisam contar também com mudanças institucionais e Rodan propõe argumentos positivos para a criação de um truste industrial para a realização da coordenação dos investimentos e mudanças na economia. A educação ou treinamento da mão de obra é um ponto citado por Rodan. Segundo ele pode não ser interessante para um empresário investir em um operário por conta do risco de ele perder esse investimento caso o funcionário mude de empresa. Por conta disso essa educação deve ser dada pelo Estado ou pelo truste que ele propõe que tem condições de arcar com gastos altos relacionado ao treinamento de vários funcionários e as perdas micro seriam mínimas e suportáveis.
Outro ponto defendido pelo autor é a “complementação das diferentes indústrias”. A ideia é de investimentos em indústrias complementares:

“As indústrias que produziriam o grosso dos bens a serem adquiridos com salários poderiam ser chamadas, portanto, de complementares. A criação planejada de um sistema de indústrias complementares desse tipo reduziria o risco de insuficiência da procura e, como o risco pode ser considerado um curso, reduziria os custos.” ( 269)

Aliado a esse ponto, Rodan considera que é facilmente previsível quais serão os bens que os trabalhadores tirados do campo irão consumir quando virarem assalariados da indústria.
Um contraponto claro à teoria de Keynes é feita por Rodan quando ele consideram que as decisões de investimento dos empresários de uma economia subdesenvolvida não podem ser feitos com base nas experiências do passado. Os conhecimentos do empresário individual são muito limitados, por conta disso cabe ao truste de empresas, que tem dados suficientes, determinar quais são os investimentos.

4.1.2) Nurkse
A problemática para Nukse é a formação de capital nos países subdesenvolvidos. Na sua primeira conferência ele mostra os empecilhos para o desenvolvimento e mostra que um dos problemas é o tamanho do mercado. Já na terceira conferência, que continua abordando questões internas do país, Nurkse vai falar sobre como formar o capital.
No geral o atraso para esse autor está relacionado com o problemas de formação de capital. Rodan defendia um desenvolvimento equilibrado e identificava o subdesenvolvimento com a oferta estrutural de mão de obra. Para Rodan, há dois caminhos para o desenvolvimento: o baseado numa economia fechada e outro numa aberta. Seu desenvolvimento é equilibrado e está embasado nas economias externas e nos investimentos indivisíveis. Para Nurkse o desenvolvimento também deve ser equilibrado.
Na conferência de Nurkse, as pessoas de economias atrasadas vivem muito próximas da subsistência, o que não permite resíduos do consumo para a formação de poupança; Há duas considerações sobre a formação de capital: em países populosos e em países esparsamente populosos – cada um deles requer uma estratégia diferente.
Para Nurkse a questão do desenvolvimento não depende do desenvolvimento tecnológico. Ele pensa em bens materiais: máquinas e ferramentas usadas na produção junto do método de forma organizada – é então uma produção organizada. Uma mudança tecnológica para ele é a mudança de instrumentos diferentes e mais modernos para se dispender menos trabalho.
Quando Nurkse critica o tamanho dos mercados, ele se refere à renda dessa economia ligada aos salários e à produtividade. O que determina um mercado pequeno e estreito é a baixa produtividade. Os ciclos viciosos de Nurkse estão relacionados com o problema de oferta de capital (da pobreza) e da demanda de capital (da estagnação). Os dois ciclos se encontram na baixa produtividade. Com pouca produção há pouco excedente e baixos salários; pouca poupança e mercado estreito e pequeno refletem baixa formação de capital e pobreza.
 O problema principal é o pouco capital para muita população. Os países subdesenvolvidos são estagnados e pobres. Aumentaria-se a renda pelo aumento da produtividade, porém há o problema de oferta de capitais por conta do consumo muito alto e pouca formação de capital – pouca poupança seguindo a lógica clássica.
A teoria do desenvolvimento tem de se preocupar em como irá romper esses ciclos viciosos resolvendo o problema da formação de capital e consequentemente o da baixa produtividade para a superação do atraso. O aumento da produtividade pode acontecer quando se realiza um conjunto de investimentos, assim como propôs Rodan.
Ao falar sobre políticas públicas, Nurkse ressalta que deve ser feito a tributação pelo consumo.
Em países populosos é preciso investir na técnica: remover parte da população do campo para produção de bens de produção num segundo setor usando técnicas já dadas. Já nos países esparsamente populosos, é preciso desenvolvimento tecnológico a fim de diminuir o trabalho no campo que concentra a mão de obra e liberar trabalhadores para a formação do segundo setor, de bens de capital. Os trabalhos desse segundo setor são simples num primeiro momento, consiste na produção de instrumentos básicos para a produção agrícola, por exemplo pás e enxadas.

4.1.3) Albert Hirshman

Nascido em 1915 é o autor de “Estratégias de desenvolvimento econômico”, publicado em 1958. Para ele não há escassez de nenhum fator, mas há problemas de investimento nestes países subdesenvolvidos – as decisões de investimento envolvem outras questões como racionalidades ocultas que não são presentes nas economias desenvolvidas. Hirshman é o primeiro autor que volta a pensar a variável Investimento como a central, mas não com as mesmas considerações feitas por Keynes. Hirshman se opõe ao desenvolvimento equilibrado. Para ele essa estratégia de desenvolvimento pensa as economias externas e desconsideram as deseconomias externas.
Seu conceito central é a ideia de encadeamentos. Há uma relação entre infraestrutura e estruturas produtivas. Esses encadeamentos podem ser para traz ou para frente. Cada país precisa perceber quais setores precisa investir e desencadear esses encadeamentos.
O subdesenvolvimento não está na escassez de fatores, mas na má organização desses fatores. A superação do atraso está em solucionar os problemas com as racionalidades ocultas específicas de cada país. Outro problema é a ausência de decisões de investimentos. Muito influenciado por Schumpeter, ele pensa que é a classe capitalista que levará o desenvolvimento a cabo e o investimento privado deve ser central nessa economia.
A dificuldade em se tomar decisões de investimento está em descobrir quais são as reais necessidades dessas economias para propiciar esses investimentos. Ou seja, deve-se descobrir quais são as racionalidades ocultas desse país.
Como nos outros autores, o desenvolvimento está ligado à industrialização. A diferença é que o desenvolvimento deve ser desequilibrado porque é pelos desequilíbrios que surgem e são descobertas novas racionalidades pelas classes investidoreas.
O desemprego disfarçado também é considerado por Hirshman. Nem sempre se consegue empregar toda a mão de obra e a economia continua com setores arcaicos e modernos convivendo juntos.
O papel do Estado é investir em áreas em que a produtividade marginal do trabalho seja atrasada, como nos setores de infreaestrutura (transporte, energia e indústria de base).
Hirshman propõe uma teoria do desenvolvimento. Ele leva em conta o problema das racionalidades ocultas, as especificações de cada país e as instituições neste processo e também a forma como esse desenvolvimento será feito, ou os meios para se chegar ao desenvolvimento. Há contradições entre os meios e o fim. Exemplo disso é a diminuição do consumo num promeiro momento; outro seria a definição de uma carga horária que ainda não existe nestes países; a terceira contradição é a distribuição desigvual da renda para só posteriormetne ter uma distribuição mais igual. Todos estes postulados colocados pelos teóricos da teoria do desenvolvimento não são adequados para Hirshman porque os meios podem ser desvirtuados antes de se chegar no fim.
Quando Hirshman discorre sobre a teoria do desenvolvimento mais adequada para cada país, ele dialoga e discorda com as teorias do crescimento encabeçadas por Harrod Domar e principalmente por Keynes. O primeiro teórico dizia que aumentar capital gera aumentos automáticos do produto e da produtividade. Hirshman ressalva que antes do capital há barreiras a serem superadas e que o aumento do capital não terá aumento do produto numa taxa proporcional.
Outro ponto discutido neste diálogo é a formação e a definição da poupança. A poupança é um determinante do investimento, mas pode fazer parte de uma das racionalidades dessa economia. Pode acontecer de um aumento da renda não refletir num aumento da poupança. Entre a renda e a poupança pode haver um consumo conspícuo como uma racionalidade a ser superada. A formação de poupança também tem de superar obstáculos de investimento.
Há dois tipos de investimentos completivos ou comentares: (a) o induzido que multiplica a renda e gera mais investimentos; e o (b) adicional que geram inovações.
Para Hirshman não há uma parte ou setor mais importante para se iniciar um novo investimento. A sequência mais desequilibradora e capaz de gerar mais investimentos induzidos e adicionais é a melhor para a superação do atraso.




4.1.4)Perroux
Perroux, em seu texto de 1955, se aproxima de Hirshman, mas com foco em manifestações regionais.
O primeiro conceito que ele lança é o de polo de crescimento, que representam concentrações de indústrias. Esses polos começam a se concentrar a partir de uma indústria motriz. O problema desses países é o fato de não conseguir comunicação entre os polos de crescimento.
A importância dessas indústrias motrizes é que elas servem como motores e o encadeador da economia. Além disso ela consegue engendrar um complexo industrial ou polo industrial ao desenvolver as demais indústrias que surgem nesse polo. Hirshman observou que a melhor indústria encadeadora na Europa era a de aço, mas essa não é uma regra para todos os países e cada economia deve encontrar a sua por conta de suas particularidades.
Os estudos de desenvolvimento têm uma forte formulação empirística. Assim, o nascimento da sua ideia de polo de crescimento foi a partir da observação de polos de tipos urbanos em París desenvolvidos ao redor do mercado consumidor; ou polo observado por Perroux foi o do vale do Ruhr, por conta da matéria-prima e da redução dos custos de beneficiamento desses materiais ao estarem próximos da fonte. De maneira geral, os polos são instalados nos lugares onde os cursos são reduzidos e são historicamente determinados.
Em países subdesenvolvidos os polos mais ricos tendem a se concentrar enquanto os pobres continuam sem comunicação e continuam pobres. Dessa forma, subdesenvolvimento para Perroux é a característica de um países ter polos de crescimento sem comunicação com os outros ou então países que não possuem indústrias motrizes.
Para o autor, a ideia de fluxo circular de Schumpeter e o equilíbrio neoclássico não existe nas economias subdesenvolvidas. Não há livre concorrência, os polos são constituídos sob bases monopolísticas, por isso ele é contra o desenvolvimento equilibrado.
Perroux se aproxima de Hirshman e diz que as indústrias motrizes geram outras indústrias, mas não adere à ideia de outros teóricos do desenvolvimento que dizem que é preciso fazer um investimento planejado que considere todas as economias externas possíveis.
O Estado é um coordenador e aparece tanto do ponto de vista taxador quanto controlador dos investimentos. Os polos vão se desenvolvendo até chegar a um ponto de ser a grande força nacional e pode ser manipulado pelo Estado para competir com outros estados. Esse é um fim errado e por isso é preciso cuidado do Estado para evitar esse mal uso.
A indústria motriz tem grande participação no produto nacional e com o passar o tempo consegue aumentar as vendas das outras indústrias de forma que a venda delas supere a sua própria. O crescimento da indústria se difunde para outras indústrias, sempre há o surgimento, o aparecimento e o beneficiamento das outras indústrias; As economias externas consideradas podem ser os de mudança de custos, investimentos induzidos ou adicionais.
Desenvolvimento é sempre desequilibrado nos aspectos regionais.
Aspectos do desenvolvimento envolvem: a) a indústria motriz em si e o complexo industrial e b) a forma como essa indpustria se relaciona com a economia nacional. É a partir da indístria motriz que se gera desenvolvimento.
Características das indústrias motrizes: i) moderna, que cria modelos precoces de produção e organização; ii) sua taxa média de produto é maior que o produto nacional; iii) seu elevado crescimento passa por um declínio e é marcada por uma fase de estagnação quando o mercado já está suprido com sua produção.

A indústria motriz contribui ao longo do tempo para que as taxas de lucro das empresas de seu complexo sejam maiores que as suas. As hipóteses de equilíbrio geral não são aplicadas à indústria motriz; não há ideia de maximização de lucros – o lucro de uma firma não é em função de sua própria maximização de lucro, ela é influenciada por outras empresas, sendo assim as decisões de lucros estão relacionadas à todas as expectativas das outras indústrias do mesmo polo; decisões de investimento são tomadas por grupos organizacionais; quanto ao preço, a demanda da população não causa interferência pois essas empresas observam a demanda e as taxas de lucro das outras empresas de seu polo.
A criação de uma indústria motriz cria expectativas para outras indústrias e faz gerar novas capacidades produtivas. Essas indústrias influenciam a economia nacional por meio de suas inovações, como por exemplo pela substituição de tecnologias por outras mais eficazes, tanto por substituição de capitais, mão de obra mais especializada e etc. Essas substituições levam a economia a um novo patarmar em termos de tecnologia.

Por ser uma indústria motriz, sua capacidade de produção é exponencial.

BASTOS, Carlos P. & BRITTO, Gustavo (2010). “Introdução à Economia do Subdesenvolvimento”. In: AGARWALA, A. N. & SINGH, S. P. (orgs.) (1958). A economia do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, Contraponto; Centro Internacional Celso Furtado, 2010.

ROSENSTEIN-RODAN , Paul N. (1943) “Problemas de industrialização da Europa do Leste e do Sudeste”. In: AGARWALA, A. N. & SINGH, S. P., op. cit.

NURKSE, Ragnar (1951). "Problemas da formação de capitais em países subdesenvolvidos". Conferências I e III (“As dimensões do mercado e o incentivo à inversão” e “Fontes internas da formação de capitais”). In Memórias do desenvolvimento, ano 1, n.1, jun/2007. Rio de Janeiro, Centro Internacional Celso Furtado, 2007.

LEWIS, Arthur W. (1954) “O desenvolvimento econômico com oferta ilimitada de mão-de-obra”. In: AGARWALA, A. N. & SINGH, S. P., op. cit. Primeira parte.

HIRSCHMAN, Albert O. “Desenvolvimento por efeitos em cadeia-uma abordagem generalizada”. In Estudos Cebrap, n. 18, out/nov/dez, 1976.

PERROUX, François (1955) “O Conceito de Polos de Crescimento”. In: SCHWARTZMAN, Jacques. Economia Regional - textos escolhidos. Belo Horizonte, CEDEPLAR, 1977.

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