BETING,
Joelmir. Na prática a teoria é outra: os
fatos e as versões da economia. São Paulo: Impres, 1973.
Se o
calcanhar de Aquiles da contabilidade econômica no Brasil é a insuficiência de
dados, o puxa-tapete do jornalismo econômico é, ao lado dessa mesma
insuficiência de dados, o exercício de uma linguagem pouco adequada a veículos
de comunicação de massa: o rançoso ‘economês’, hermético na forma e esotérico
no conteúdo. (BETING: 1973, p. 32)
A epidemia do “dialeto”, que assola certos comentaristas de
Economia, Política, Artes, Literatura, Futebol, Medicina, Religião,
Arquitetura, Urbanismo, Educação (o “pedagogês”) ou Mundanismo (o maior “su”),
tem duas explicações: de um lado, a vaidade profissional do entendido, do
especialista (ou especializado) ou o do “por dentro”; de outro, a busca de uma
só raça de leitor: o da curriola. O economista escreve para o economista. O
crítico de qualquer coisa escreve para o crítico-colega da mesma coisa. O
jornalista escrevendo para o jornalista da mesma faixa – e os 200 mil leitores
que se danem. Espécie de comunicação de circuito fechado, pior que aquela
comunicação denunciada pelo frasista Chesterton, para quem o jornalismo é a
arte de tapar espaços vazios não cobertos pela propaganda comercial...”
(BETING: 1973, p. 34)
O
economês a gente aprende na escola. Mas se não tomar cuidado, o economista
acabará falando, escrevendo e pensando em economês o resto da vida. Mesmo
porque, o economês é uma varinha mágica absolutamente confortável. Aplicado
como método, pode dar resposta a qualquer problema do vasto mundo da economia. (BETING:
1973, p. 36)
Exatamente
por insistirem, fora da escola, no exercício dessa linguagem não
operacionalizavel, é que alguns economistas profissionais quebram a cara quando
submetidos a um desafio de comunicação, seja num artigo de jornal sobre a nova
política de tarifas aduaneiras, seja num comentparuio sbre o comportamento dos
papeis de sua empresa em bolsa, seja numa palestra ou conferencia durante o
almoço de um clube de serviço do bairro. (BETING: 1973, p. 37)
Ocorre que a massa de leitores de um jornal americano, alemão ou
inglês constitui um terreno já culturalmente fertilizado para esse tipo de
comunicação de circuito fechado. No Brasil, porém, onde o interesse da opinião
pública, como que repetindo o fenômeno japonês do pós-guerra, deslocou-se
rapidamente do fato político-partidário para o fato econômico-social – no
Brasil, o jornalismo especializado se vê postado diante de um vasto anfiteatro
de leigos, neófitos ou apenas iniciados na esgrimagem do pensamento econômico.
(BETING: 1973, p. 38)
É
preciso, igualmente, promover uma generosa mudança de abordagem: estamos produzindo muita
informação de interesse do governante na direção do empresário e do empresário
na direção do governante. Falta-nos responder a uma necessidade gritante do
leitor mais amado: a informação de interesse do consumidor, do trabalhador, do
estudante, da dona-de-casa, a massa realmente leiga e desinformada. (BETING:
1973, p. 40)
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