quinta-feira, 30 de maio de 2013

Na prática a teoria é outra: os fatos e as versões da economia

BETING, Joelmir. Na prática a teoria é outra: os fatos e as versões da economia. São Paulo: Impres, 1973.

Se o calcanhar de Aquiles da contabilidade econômica no Brasil é a insuficiência de dados, o puxa-tapete do jornalismo econômico é, ao lado dessa mesma insuficiência de dados, o exercício de uma linguagem pouco adequada a veículos de comunicação de massa: o rançoso ‘economês’, hermético na forma e esotérico no conteúdo. (BETING: 1973, p. 32)

A epidemia do “dialeto”, que assola certos comentaristas de Economia, Política, Artes, Literatura, Futebol, Medicina, Religião, Arquitetura, Urbanismo, Educação (o “pedagogês”) ou Mundanismo (o maior “su”), tem duas explicações: de um lado, a vaidade profissional do entendido, do especialista (ou especializado) ou o do “por dentro”; de outro, a busca de uma só raça de leitor: o da curriola. O economista escreve para o economista. O crítico de qualquer coisa escreve para o crítico-colega da mesma coisa. O jornalista escrevendo para o jornalista da mesma faixa – e os 200 mil leitores que se danem. Espécie de comunicação de circuito fechado, pior que aquela comunicação denunciada pelo frasista Chesterton, para quem o jornalismo é a arte de tapar espaços vazios não cobertos pela propaganda comercial...” (BETING: 1973, p. 34)
O economês a gente aprende na escola. Mas se não tomar cuidado, o economista acabará falando, escrevendo e pensando em economês o resto da vida. Mesmo porque, o economês é uma varinha mágica absolutamente confortável. Aplicado como método, pode dar resposta a qualquer problema do vasto mundo da economia. (BETING: 1973, p. 36)

Exatamente por insistirem, fora da escola, no exercício dessa linguagem não operacionalizavel, é que alguns economistas profissionais quebram a cara quando submetidos a um desafio de comunicação, seja num artigo de jornal sobre a nova política de tarifas aduaneiras, seja num comentparuio sbre o comportamento dos papeis de sua empresa em bolsa, seja numa palestra ou conferencia durante o almoço de um clube de serviço do bairro. (BETING: 1973, p. 37)

Ocorre que a massa de leitores de um jornal americano, alemão ou inglês constitui um terreno já culturalmente fertilizado para esse tipo de comunicação de circuito fechado. No Brasil, porém, onde o interesse da opinião pública, como que repetindo o fenômeno japonês do pós-guerra, deslocou-se rapidamente do fato político-partidário para o fato econômico-social – no Brasil, o jornalismo especializado se vê postado diante de um vasto anfiteatro de leigos, neófitos ou apenas iniciados na esgrimagem do pensamento econômico. (BETING: 1973, p. 38)

É preciso, igualmente, promover uma generosa mudança de abordagem: estamos produzindo muita informação de interesse do governante na direção do empresário e do empresário na direção do governante. Falta-nos responder a uma necessidade gritante do leitor mais amado: a informação de interesse do consumidor, do trabalhador, do estudante, da dona-de-casa, a massa realmente leiga e desinformada. (BETING: 1973, p. 40)


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