quinta-feira, 30 de maio de 2013

“A grande depressão e a estagnação da renda real, 1929-1939”

VILLELA, A. V. e SUZIGAN, W. (1973). Política do governo e crescimento da economia brasileira – 1889-1945. 3ª ed. Brasília: IPEA, 2001. Cap. 06, Item 6.3.1 “Mudanças estruturais” e 6.5 “Produção industrial”

 6.3 Produção agrícola
6.3.1 Mudanças estruturais: predomínio da agricultura para o mercado interno
Os autores mostram, por meio de dados dos valores das principais culturas, das áreas cultivadas dos principais produtos brasileiros e as taxas anuais de crescimento da produção agrícola no país que, a partir da crise de 1929, o setor agrícola sofreu fortes modificações. Além da queda nos preços do café, houve duas importantes mudanças. A primeira é o crescimento da importância do algodão na pauta exportadora entre 1925 e 1943. A variação do valor da produção de algodão entre esses dois extremos foi de mais de 200% enquanto a do café houve decréscimo de 66%. A segunda foi o aumento “extraordinário” na importância da produção para o mercado interno. Essa produção passou a representar 58% do valor da produção das lavouras.

6.5 Produção industrial
Enquanto o café passava por um momento difícil com os preços internacionais, a produção industrial foi beneficiada pela situação do comércio exterior após a crise de 1929. As desvalorizações cambiais provocaram uma proteção à indústria nacional. A indústria de tecidos nacional, por exemplo, teve aumento da demanda por conta das dificuldades com o comércio internacional, além de ter sido beneficiada de uma capacidade ociosa acumulada durante os anos anteriores à crise. Além desse setor, a produção industrial como um todo cresceu entre 1930 e 1939: 70% das indústrias existentes de 1940 foram fundadas depois de 1930; a participação da indústria na produção nacional aumentou de 21%, em 1919, para 43%, em 1939; e a taxa média anual de crescimento no decênio 1929-1939 foi de 8,4% – sendo que a taxa foi de 1% entre 1929-1933 e de 11,2% até o último ano do período –, enquanto a agricultura registrou 2,2%.
Ressalta-se que esse crescimento foi dado mesmo com a proibição de importações de novas máquinas. A indústria têxtil paulista, por exemplo, chegou em 1940 com uma parcela de 51,2% da produção nacional de tecidos, mas em 1936 os teares eram os mesmos de 1927. Essa situação prejudicava a competitividade do produto nacional com o estrangeiro, deteriorava os termos de troca e gerava preços elevados por conta dos altos custos. Só com a II Guerra Mundial que o país conseguiu exportar mais tecidos devido à disposição dos comércio internacional em pagar os preços elevados brasileiros num cenário de escassez de ofertas.
“É importante lembrar que a industrialização dos anos trinta ocorreu apesar das condições adversas do comércio exterior, principalmente do baixo nível das relações de troca durante esses anos, o que limitou severamente a capacidade de importar, de vez que as entradas de capitais foram inexpressivas. Como a indústria de equipamentos estava em sua infância, a capacidade de importar era crucial para a continuidade do processo de desenvolvimento” (p. 219)
Grande parte do capital fixo da indústria brasileira havia sido importado na década de 1920. Nessa época foram importadas grande parte dos equipamentos da indústria têxtil e foi também um período da implantação das indústrias de cimento e aço que possibilitaram a expansão das ferrovias e da capacidade instalada para distribuição de energia elétrica no país. Mesmo com limitações às importações de máquinas, a maturação desses investimentos permitiu um aumento contínuo da produção das indústrias básicas que sustentaram um desenvolvimento industrial mais extenso e firme, como alegam os autores.

Sendo assim, a equação que possibilitou o crescimento da indústria entre 1933 e 1939 se deu na soma de três fatores: a política cambial que estimulou a substituição de importações; a utilização da capacidade ociosa da indústria básica implantada na década anterior; e o estímulo do Governo via criação de Carteira de Crédito Agrícola e Industrial no Banco do Brasil. Frente a estes estímulos, a indústria de 1939 já mostrava algumas diferenças em relação a 1919: a indústria básica (exceto a de cimento) duplicou a participação no valor adicionado da indústria; as indústrias tradicionais perdeu 12 pontos percentuais na sua participação no valor adicionado da indústria, mas ainda registrava 60% deles; e a indústria química e farmacêutica triplicou a participação no período.

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