quinta-feira, 30 de maio de 2013

Marx e o fetichismo

Por que o trabalho é representado pelo valor do produto? Segundo Marx esta é um dos pontos que os economistas clássicos não conseguiram responder. A crítica feita pelo autor aos seus precursores é resumida no conceito que ele apresenta como o “fetichismo”.

As mercadorias, para Marx, são cheias de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas, ou seja, há mais num simples objeto que simples características materiais. As mercadorias encobrem em si o trabalho privado e as relações entre os produtores:

“A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da duração, do dispêndio da força humana de trabalho, toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, na qual se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produtos do trabalho” (p. 94)

Os homens não se relacionam socialmente mais pelos seus trabalhos, mas sim por suas coisas. O processo de produção domina o homem e não o contrário e para os participantes das trocas de mercadorias, “a própria atividade social possui a forma de uma atividade das coisas sob cujo controle se encontram, ao invés de as controlarem” (p. 96). Marx define o fetichismo:

“Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. (...) Aí, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantém relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo a isso de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias.” (p. 94)

Como argumento para esse seu conceito, Marx faz relações entre os objetos úteis e os trabalhos privados, além de trazer exemplos de organizações sociais onde o fetichismo não é presente.
Para ele, objeto útil só é mercadoria por ser produto de um trabalho humano e ser destinado à troca. O conjunto de trabalho privado compõe a totalidade do trabalho social e apenas com a troca o produto do trabalho adquire uma realidade social homogênea. É por isso que a relação social entre os trabalhos privados aparece como “ralação material entre pessoas e relações sociais entre coisas” (p. 95) e não mais como relação entre indivíduos.

Como apenas com a troca o produto do trabalho adquire essa realidade social homogênea, é ai, então, que o trabalho do produtor adquire um duplo caráter social: ele tem de ser útil às necessidades sociais para se firmar no coletivo e só satisfaz as necessidades a medida que puder ser trocado por qualquer espécie de trabalho privado útil. Apesar de existir trabalhos qualitativamente diferentes, ao serem permutáveis eles são igualados e é quando as trocas assumem a forma dinheiro “que realmente dissimula o caráter social dos trabalhos privados e, em consequência, as relações sociais entre os produtores particulares, ao invés de pô-las em evidências” (p. 97), ou seja, não se enxerga mais uma mercadoria como o fruto de um trabalho social, se vê, apenas, o objeto útil.


Esse tipo de relação só acontece em sociedades cujo produto do trabalho seja destinado à troca. Marx cita exemplos de organizações que se diferem da capitalista e que, consequentemente, não apresentam esse fetichismo. São elas: a ilha de Robinson Crusoé, a Idade Média europeia e seu sistema de produção servil, uma indústria patriarcal e a sociedade de homens livres que produzem produtos sociais. Todas essas as relações sociais não se dão por meio de mercadorias, por meio de objetos, os produtos do trabalho carregam consigo o caráter social do trabalho e não é dissimulado por nenhum outro equivalente geral.

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