quinta-feira, 30 de maio de 2013

Notas de aula: Metas de inflação do Banco Central

O modelo de metas de inflação do Banco Central do Brasil foi elaborado na década de 1990 num esforço de estudo e união de arcabouços teóricos passados a fim de enfrentar particularidades da economia brasileira e enfrentar a inflação até então encarada como um problema brasileiro. A nova síntese na qual se abraça as proposições do modelo de metas brasileiro traz consigo ideias assimiladas em outras escolas, desde os monetaristas como taxa natural de desemprego e a curva de Philips aceleracionista até ideias de novos keynesianos como a ideia de rigidezes de preço e de mercado. Dos novos clássicos trazem consigo as expectativas racionais dos agentes que avaliam e consideram expectativas futuros de inflação para suas decisões e não inflações passadas como eram formadas as expectativas adaptativas dos monetárias. Além dessas expectativas racionais, a nova síntese também agrega elementos microeconômicos como a concorrência imperfeita entre os agentes, a assimetria de informações e não existência do Market clearing na estabilidade geral da economia vindos da escola novo keynesiana.

As políticas de juros por meio das metas de inflação são o instrumento político deste novo arcabouço cujo objetivo é a estabilidade de preços. A ideia de metas remonta à ideia de política monetária por meio de regras lançada pelos monetaristas na década de 1950 – uma ideia a fim de evitar surpresas para os agentes e para criar ou impedir o surgimento de ilusões monetárias que afetariam variáveis reais no curto prazo. A diferença, contudo, é que as metas de inflação pressupõem regras não estritas, ou seja, há um espaço para uma discricionalidade contida, assim como foi proposto pelos novos keynesianos, a fim de enfrentar desajustes econômicos dentro de um espaço de ação, o que é chamado de um regime de molduras. Ao considerar a influência da inflação passada, os hiatos do produto propostos pelos novos keynesianos e a taxa de câmbio, o Banco central determina a taxa de juros, instrumento utilizado por ele de forma supostamente independente a fim de garantir a estabilidade de preços nesta economia.

Para esta atuação por meio da taxa de juros, o Banco Central precisa ser crível e independente. Independente na prática para evitar ativismos políticos que possam ter efeitos retardados na economia por conta dos lags temporais existentes entre a execução da política monetária e seu efeito sobre a economia. E deve ser crível para que os agentes econômicos possam assimilar de forma clara os movimentos da base monetária e da taxa de juros mesmo com as rigidezes de mercado previstas pelos novos keynesianos em crítica às informações perfeitas apontadas pelos novos clássicos. Apesar de a nova síntese pressupor a assimetria de informações e a concorrência imperfeita entre os agentes do mercado, as expectativas dos agentes são formuladas racionalmente, ou seja, esses agentes estipulam taxas de inflação futuras com base nas informações de que dispõem atualmente. Para que essas expectativas não sejam frustradas, ou seja, para que não hajam surpresas após a formulação das expectativas e a tomada de decisões, é preciso que haja transparência nas informações e credibilidade no Banco Central. Caso não hajam estes pressupostos, a produção corrente pode se desviar da produção natural daquela economia, ou seja, erros expectacionais geram o desequilíbrio macroeconômico até nas metas de inflação do Banco Central do Brasil.

Esses desesquilíbrios podem ser representados por meio das fórmulas das curvas de Philips, na curva IS e na curva da reação do Banco Central, fórmulas utilizadas para a determinação da taxa de juros para aquele momento da economia. As fórmulas propõem uma análise do hiato do produto, ou seja, a diferença entre Yn e Yt, das expectativas quanto à inflação e também da inflação externa/internacional a fim de se determinar essa taxa de juros. As singularidades das fórmulas do BC são considerar (1) os hiatos do produto de dois períodos passados e não apenas do período estritamente passado como apresenta Snowdon e Arestes; (2) a taxa de câmbio expressa na inflação externa e seus efeitos sobre a taxa de juros interna a fim de evitar ou facilitar a entrada de capitais estrangeiros num regime de câmbio flutuante e, com isso, controlar a inflação que essa taxa de câmbio pode gerar na economia; e (3) o crédito que aparece na forma de taxa de juros nas fórmulas do BC – taxa de juros esta que tem a capacidade de aumentar ou diminuir financiamentos –, três mecanismos de transmissão da política monetária para a economia. Essas análises são feitas nas reuniões do Copom que, como são apresentadas em suas atas, consideram tanto o mercado nacional quanto o internacional e seus efeitos sobre as decisões de agentes e sobre a renda nacional. 

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